Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
Em um local próximo a Denver (EUA), na sombra das Montanhas Rochosas, um armazém está localizado ao lado de uma fábrica de armas químicas desativada. O edifício parece uma construção comum, mas dentro dele está a maior coleção já vista de corpos de animais selvagens que foram mortos para fabricação de móveis, capas, revestimentos, estofados, bolsas e cabeças para ornamentar paredes como “troféus” de caça.
A propriedade se chama “National Eagle and Wildlife Property Repository” (“Depósito de Águias Nacionais e Vida Selvagem”), mas poderia perfeitamente ser denominada como “museu internacional do tráfico de vida selvagem” – um testamento sombrio do negócio da matança de animais em nome do lucro.
Dentro da área de 1.486 metros quadrados estão confinados 1,5 milhões de objetos, sendo a maioria deles produto de algumas das espécies de mamíferos e répteis mais ameaçadas do mundo – tigres, rinocerontes, tartarugas marinhas, crocodilos e elefantes. Fileiras e mais fileiras de prateleiras de metal ostentam de tudo, desde estatuetas de marfim até botas de pele de cobra em tamanho infantil. Uma estante inteira é dedicada a guardar cabeças de grandes felinos, como leopardos, tigres, onças.
Não há outro lugar como esse no país e, segundo a reportagem da National Geographic, talvez não haja nenhum outro no mundo que se compare a esse em escala.
O armazém é gerenciado pelo Serviço de Vida Selvagem dos Estados Unidos, a agência responsável por fiscalizar e aplicar leis federais de proteção aos peixes, animais selvagens, aves migratórias e seus habitats naturais por todo o país.
O departamento também é incumbido de assegurar o enquadramento dos Estados Unidos à Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), que é o tratado que regula o comércio de vida selvagem para proteger a sobrevivência de espécies ameaçadas. Conforme a reportagem, é devido aos esforços do país para impor o tratado – e manter a transparência em torno desses esforços – que as partes de corpos de animais das espécies traficadas acabam indo parar nesse local.
Tudo o que está nesse armazém foi apreendido durante buscas em portos americanos ou quando alguém tentava traficar cruzando as fronteiras. O propósito do armazém é “receber, inventariar e legalmente dispor de bens da vida selvagem para garantir 100 % de responsabilidade sobre o material”.
Funcionários da instalação também são responsáveis por desenvolver programas educativos sobre o comércio de vida selvagem, espécies ameaçadas e leis de preservação. Alguns dos itens confiscados são doados para organizações sem fins lucrativos para aumentar a conscientização sobre o tamanho da calamidade.
“Pura ganância”
“Alguns humanos são capazes de conduzir espécies à extinção por pura ganância”, disse Steve Oberholtzer, agente especial responsável pelo armazém e por operações de fiscalização em oito estados ao longo do oeste americano. “Onde há dinheiro envolvido, haverá aqueles que irão passar por cima das leis para obtê-lo”.
Ele explica que cada item – a cadeira de pele de zebra, o tapete de urso polar, sacolas contendo milhares de cavalos marinhos secos – chega ao local após julgamento do caso que levou ao confisco.
Apesar da quantidade impressionante em exibição, diz a supervisora do armazém Coleen Schaefer com um suspiro, “Esta é apenas a ponta de um iceberg do que acontece em nosso país. Mas dá uma noção da escala do comércio ilegal de animais selvagens”.
Novos objetos chegam ao local diariamente. Recentemente, receberam uma grande caixa de madeira contendo a cabeça de um rinoceronte negro, com o chifre intacto. Detalhes por trás do caso ainda são imprecisos. Para Schaefer, aquele “troféu” de rinoceronte corresponde à evidência de uma poderosa ameaça – não só para as criaturas da selva, mas também para o estado de direito.
“Crimes ambientais costumavam ser em sua maioria crimes de oportunidade, mas agora eles são altamente estruturados, com perpetradores bem armados e extremamente organizados”, disse ela. “As pessoas estão ganhando milhões de dólares com animais ameaçados. Não são apenas os conservacionistas que precisam ficar preocupados. Esta é uma questão de segurança global”.
Em reconhecimento da crescente ameaça representada pelos traficantes de vida selvagem, o FWS posicionou agentes em cinco países, sendo três na África. “A extensão da caça é tão vasta”, diz Oberholtzer, “que está tendo um efeito desestabilizador em regiões inteiras”.