A população de tordos da ilha de São Tomé é diferente da população da ilha do Príncipe, onde esta ave é a espécie endémica mais rara,e até agora desconhecida, limitada às zonas mais inacessíveis da floresta primária.
A descoberta é da autoria de Martim Melo, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), que publicou recentemente dois artigos sobre os tordos da ilha do Príncipe.
No estudo publicado no Journal of Zoology – “Múltiplas linhas de evidência apoiam o reconhecimento de uma espécie de ave muito rara – o Tordo do Príncipe” -Martim Melo revela que “com base nas diferenças morfológicas, do canto e genéticas, a população de tordos na ilha do Príncipe (Turdus xanthorhynchus) pertence a uma espécie claramente distinta da população de tordos da vizinha ilha de São Tomé (Turdus olivaceofuscus)”.
De acordo com o investigador, a distância genética sugere que as duas populações estão isoladas há, pelo menos, três milhões de anos. Além disso, a realização de análises filogenéticas permitiu constatar que o tordo-africano T. pelios é o parente continental mais próximo dos de São Tomé e Príncipe.
Num outro artigo, publicado no Journal Bird Conservation International, Martim Melo explica que “através de um levantamento do Tordo do Príncipe, utilizando 177 pontos de contagem espalhados por toda a ilha”, demonstrou-se que o número destas aves é muito reduzido, o que o coloca na categoria mais elevada da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN): espécie em perigo crítico de extinção. Recentemente foi efetuada uma estimativa final que conta com 364 indivíduos.
Essa população continua a sofrer um declínio acentuado pela pressão da caça e a reduzida área de ocorrência do tordo. No entanto, a recente proclamação das florestas primárias do sul do Príncipe como “Parque Natural d’Obô do Príncipe” oferece uma oportunidade para a conservação desta espécie recentemente descrita, que pode assim tornar-se uma espécie-bandeira na proteção destas florestas.
Fonte: Ciência Hoje