Aos 86 anos, um aposentado de São Carlos (SP) dedica suas manhãs a uma tarefa desafiadora: cuidar de 75 cães e 40 gatos que vivem em uma chácara no Jardim Tangará. Enio Malaquini levanta antes de o sol raiar para alimentar, limpar os canis e gatis e dar banho nos animais que foram resgatados das ruas ao longo dos anos.
Com um coração generoso e uma missão de vida, o idoso se tornou o herói silencioso desses animais que foram abandonados e ganharam uma nova vida com o tutor.
Malaquini disse que sempre teve dó dos animais abandonados “porque eles são humildes e sofrem calados, diferente das pessoas”.
Na chácara de sete mil metros quadrados, cães e gatos recebem alimentação, banho, tratamento veterinário e muito amor.
Apesar da rotina pesada, o aposentado disse que não se arrepende de nada e que se sente bem com o que faz.
“É gratificante e vou fazer até quando eu aguentar”, disse Malaquini, que passou pela pandemia sem pegar Covid-19. “Não posso me dar ao luxo de ficar doente, os animais precisam de mim”, completou.
Investimentos e despesas
Manter os animais saudáveis e em condições dignas dá trabalho e gera despesas. Malaquini não fala em valores, mas disse que parcela os tratamentos na clínica sempre que os animais precisam de medicamento, atendimento e até procedimento cirúrgico.
Garantir a alimentação deles também não é fácil. Somente os cães comem um saco e meio de ração por dia.
“Até hoje, graças a Deus, nunca me faltou nada. Toda ajuda é bem-vinda e sempre aparece alguém disposto e contribuir e aí dá para fazer um pouco mais”, disse.
Enio Malaquini se tornou o herói silencioso de cães e gatos que foram abandonados e ganharam nova vida.
Malaquini é aposentado, mas ainda trabalha como vendedor de caixas de papelão para complementar a renda. Tudo o que ganha é investido para manter a casa onde vive com a mulher e os “filhos de quatro patas”.
A dedicação do idoso é tão grande que ele usou R$ 60 mil que recebeu de seguro, após perder a visão do olho direito, e outros R$ 60 mil da venda de um imóvel para tratar dos animais ao longo dos anos.
Violinha, João, Zé Malandro, Urso, Nina, Íris, cada animal tem um nome e uma história de resgate. A vira-latas Mirinha morava em um bueiro. “Quando eu descobri, fui lá buscar. Já faz uns 18 anos, cachorro pequeno dura bastante”, disse Malaquini.
O Pinta tem recebeu esse nome porque tem uma pintinha em um dos olhos. Serena é paraplégica, só move a cabeça. Segundo o aposentado, ela ficou nessa condição há oito anos após um acidente com um portão, por isso os cuidados com ela são especiais.
“Ela se urina, se molha toda. Então tem que lavar, dar comida na boca. Ninguém dorme antes das 23h, tem que ficar com ela porque senão ela chora”, disse. Malaquini também leva Serena em um carrinho para passear para que ela possa apreciar um pouco da paisagem.
Amor pelos animais
O cuidado com os animais começou durante as viagens que Malaquini fez por várias regiões do país. Quando encontrava algum animal atropelado, colocava no carro e levava a um veterinário para tentar salvar mais uma vida.
Com o tempo, ele passou pegar os animais que encontrava abandonados na rua. Se percebia que não tinha tutor, estava magro ou maltratado, levava para casa.
Todos os cães e gatos mantidos na chácara são castrados e vacinados. Eles também tomam vermífugos quando o aposentado percebe que há algo errado.
Tanto o canil, quanto o gatil improvisados foram construídos pelo casal com materiais que seriam descartados em ferro-velho. Os espaços são limpos diariamente. A água da chuva é reaproveitada para o serviço e, com isso, consegue-se uma boa economia na conta do mês.
Os animais estão disponíveis para adoção, mas poucas pessoas aparecem por lá para levá-los para casa. O telefone para quem deseja ajudar é (16) 99157-6377.
Fonte: G1