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AMOR PROFUNDO

Idosa dorme em carro para abrigar 110 cães e gatos em casa: 'Faço tudo e mais um pouco'

29 de maio de 2024
5 min. de leitura
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Foto: Divulgação

O amor incondicional aos animais norteia a vida da dona de casa Maria Benedita Thomaz Zanucoli, de 60 anos, moradora da Chácara Flora em Araraquara (SP).

De andador e com doses diárias de morfina devido a tratamento contra um câncer na bacia, ela cuida com muita dedicação de 110 cães e gatos ao lado do marido Joel Zanucoli, de 56 anos.

O carinho é tanto que, para abrigar essa galera, ela acabou cedendo à própria casa aos bichanos e o casal está dormindo em um carro até conseguir terminar de construir um gatil.

Para manter os animais e pagar as contas, ela conta com a ajuda de doações e vende pizzas.

“Estamos dormindo no carro [há cerca] de 10 meses a 1 ano porque lá dentro agora é a casa dos meus filhos de quatro patinhas. Vamos ficar aqui até eu conseguir terminar de fazer o gatil, e eles possam ter o espaço deles e eu voltar a ter o meu (espaço). Faço tudo e mais um pouco por eles”, afirmou.

Maria dorme nos bancos da frente e o marido, por ser maior, fica atrás no banco dos passageiros. O sono não é o dos melhores, mas o sacrifício é pelo bem dos animaizinhos.

Luta e dedicação

Dona Maria luta contra um câncer há 12 anos, mesmo tempo em que começou a resgatar animais abandonados e vítimas de maus-tratos.

Foi após a primeira sessão de quimioterapia que uma cachorrinha apareceu em sua vida. A SRD Magrela estava perambulando abandonada em Araraquara e dona Maria não teve dúvidas na adoção.

Para a sua surpresa, a cadela estava grávida e assim chegaram os primeiros cinco filhotes: Tor, Dara, Cher, Nina e Scooby.

“Eu sempre gostei de animais e queria resgatar, mas tinha medo. Nisso veio o câncer e eu pensei que se Deus me desse força para lutar contra a doença, ia me dar força para cuidar de animais. Eu vivo na base da morfina e por eles”, disse.

Moradora de uma região afastada na zona rural, Maria contou que muitas vezes cães e gatos são abandonados ao redor. Ela não doa nenhum dos animais e sabe o nome de todos.

“Na região tem muitos casos de abandono de animais e de maus-tratos, e se descobrem que eu recolho, deixam em casa. Muitos trazem cães e prometem que vão ajudar com ração e somem. Se eu vejo um cachorrinho abandonado, vou procurar ver se tem tutor primeiro”, contou.

Casa cheia

Dos 110 animais, 35 são cachorros e 75 são gatos. Todos são castrados, vermifugados e vacinados, com exceção dos filhotes de gatinhos recém-chegados.

A casa tem dois quartos, cozinha e banheiro, mas os ambientes internos foram “dominados” pelos felinos. Como ela ainda não conseguiu terminar um gatil, a opção foi acomodá-los na casa para não fugirem, já que eles não tem acesso à rua. Já os cães ficam em canis. Uma cozinha e um banheiro na área externa atendem o casal.

“Eu fiz um orçamento do gatil e ficou em R$ 3,5 mil, mas não tenho condições. Estou afastada pelo INSS devido ao tratamento e recebo um pouco mais que um salário mínimo. Eu sonho em fazer um gatil e um canil maior, é minha prioridade”, contou.
450 quilos de ração por mês

Ao mês, são 225 quilos de ração para os cachorros e 200 quilos para os gatinhos. O casal enfrenta dificuldades e realiza rifas solidárias de pizzas para arrecadar verbas para ração, entre outros. Uma rifa se encerra em julho, com valores entre R$ 30 e R$ 50.

Antes de ficar doente, Maria tinha três empregos e chegou a fazer um curso técnico em enfermagem. Seu marido Joel, que era motorista, está desempregado no momento porque tem se desdobrado para cuidar da esposa, da casa e dos mais de 100 moradores.
Amor incondicional aos animais resgatados levou Dona Maria a dormir no carro há um ano: “Faço tudo por eles”.

Amigos, conhecidos e até desconhecidos que conhecem a história e o empenho, ajudam com doações, ração e cesta básica. Salgados também são feitos por Dona Maria e uma irmã para somar na renda mensal.

A cuidadora independente, como se autodeclara, afirmou que apesar das dificuldades não deixa faltar nada aos animais. No momento, as contas de água e luz estão três meses atrasadas.

“São 15 quilos de ração para os cachorros a cada dois dias e 20 quilos para os gatos a cada três dias. Nunca fiz as contas e controle porque ia cair das pernas, então tenho noção pelos dias. Se for pra eu comprar coisa para casa ou para os animais, eu penso neles. Falta aqui, mas para eles nunca”, disse.

Como doar ração e ajudar ?

Para ajudar com ração ou doações é necessário entrar em contato pelo WhatsApp (16) 99792-6706 (Maria ou Joel).

As rifas solidárias das pizzas custam R$ 30 (uma pizza) e R$ 50 (duas pizzas), a campanha se encerra no dia 7 de julho. Informações também podem ser obtidas pelo mesmo número.

Filhos de alma

A dedicação e carinho de Maria pelos animais já causou estranhamento e até afastamento de familiares. Porém, ela enfatiza que se não fossem os animais ela não teria ânimo nem para acordar.

“Minha família não gosta muito não, tanto que se afastaram de mim. Eles acham que eu não deveria ter tantos animais e até entendo a preocupação lógica deles por conta da minha saúde. Mas se não fossem os animais eu não teria forças para levantar todos os dias de manhã. São meus filhos de alma, os outros são de sangue e coração”, contou.

Para ela, o amor dos bichanos é imensurável e muito diferente do afeto humano.

“Garanto para você que o amor que um gato e um cachorro demonstram é superior em mil vezes do que um ser humano tem possibilidade de demonstrar”, refletiu.

Fonte: G1

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