De volta ao habitat: 60 papagaios originários de Mato Grosso foram repatriados no último mês e voltaram ao seu habitat natural. Eles foram pegos em São Paulo, fruto do tráfico de animais que permeia o Estado. Outras 40 aves aguardam o transporte do Rio de Janeiro para Mato Grosso a fim de ganharem o mesmo destino.
Para as duas principais famílias de aves em Mato Grosso, a luta pela sobrevivência vai além do predador natural presente na natureza. Chegar à vida adulta para periquitos e araras, curiós e bicudos, por exemplo, significa lutar contra o tráfico de biodiversidade. No Estado, aves respondem por 90% das ocorrências de tráfico de animais, segundo dados do Ibama.
Em setembro, época de reprodução da maioria dessas espécies, o fluxo de animais entre os estados brasileiros aumenta por conta da facilidade no transporte.
Papagaios, periquitos e araras, aves da família pistaciforme, e curiós, pintassilgos, e bicudos, principais representantes de pássaros ornamentais da família emberizidae, são as vítimas preferidas dos traficantes.
O comércio dessas espécies é considerado crime ambiental. Todas constam da lista vermelha do Ministério do Meio Ambiente (MMA) por estar em risco de extinção. A multa varia de R$ 500 a R$ 5 mil, dependendo do grau de extinção da ave.
O segredo da reinserção em seu habitat natural está no período de reabilitação, conforme o analista ambiental do Ibama, César Esteves Soares, responsável pelo núcleo de fauna do órgão. Atualmente existem três áreas de reabilitação cadastradas – uma em Tangará da Serra e duas em Poconé – além de outras três em processo de análise no projeto de Área de Soltura de Animais Silvestres (Asas) de Mato Grosso. “Um papagaio pode demorar de quatro meses a um ano somente para recuperar as penas das asas, que normalmente são cortadas”, explicou Soares.
No viveiro improvisado do Ibama, uma arara azul de aproximadamente três anos está sendo criada pelos técnicos do órgão. “Este animal está totalmente perdido para a natureza. Do ponto de vista ecológico, não tem valor algum. Se acostumou tanto ao contato humano que é incapaz de viver sozinho”, afirmou César que teme soltar a ave. “Se soltarmos é capaz de cair em algum quintal por aí”.
Papagaios e araras recuperados junto ao consumidor final são pegos geralmente na fase adulta e jovem, e normalmente nos estados do Sudeste, região onde se encontra a maioria dos consumidores.
Com os traficantes são encontrados os espécimes ainda filhotes e na região de origem, que são os estados no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No caso de Mato Grosso, a fiscalização é comprometida, segundo César, devido à extensão territorial. “Eles seguem rotas rodoviárias e hidroviárias para chegar ao consumidor final”.
No último relatório de espécies em extinção divulgado pelo MMA no ano passado, os biomas Mata Atlântica e Cerrado respondiam por mais de 72% dos animais em extinção.
Fonte: Diário de Cuiabá