Indiciado por tráfico de drogas e resistência à polícia, o cantor de trap Oruam agora responde a acusação de transformar animais silvestres em acessórios de ostentação. Multado em R$ 40,5 mil pelo Ibama, ele mantinha um gato Savannah, uma arara-vermelha, um papagaio e um macaco-prego aprisionados, todos exibidos como símbolos de status em suas redes sociais.
A primeira autuação veio em novembro de 2023, após fiscalização encontrar os animais sem autorização ambiental. Na mesma operação, Oruam recebeu uma segunda multa por obstruir o trabalho dos agentes. Apesar da gravidade, o caso mostra uma prática cada vez mais comum: a glamorização do sofrimento de animais silvestres como forma de receber curtidas e compartilhamentos em redes sociais.
Com milhões de seguidores, Oruam transformou os animais em coadjuvantes de sua imagem pública. O macaco-prego Jack e o gato Malandrex apareciam em vídeos, festivais e entrevistas, incluindo cenas em que o felino, estressado, reagia ao cantor e pessoas a sua volta. A exposição reforçava o estereótipo perverso de que a posse de animais exóticos é sinal de poder.
A legislação é clara: a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) proíbe a posse de fauna silvestre sem autorização, com pena de detenção e multa. Animais não são objetos de decoração. Redes sociais alimentam essa ilusão, e celebridades replicam esse crime como se fosse estilo de vida.
Em maio, o Ibama lançou a campanha “Se não é livre, eu não curto”, alertando para os danos da exposição de animais silvestres aprisionados nas redes sociais. Quando estão em cativeiro, espécies como macacos e araras sofrem com estresse, privação de comportamentos naturais e até morte precoce.
Enquanto isso, Oruam segue sem se pronunciar e sua assessoria ignorou pedidos de resposta. Mas o problema vai além dele. O caso mostra como a indústria do entretenimento ainda trata animais como troféus, que não têm sentimentos e sensibilidade.
É hora de desnaturalizar a ideia de que animais silvestres são “acessórios de luxo”. Mantê-los em cativeiro, exibindo-os como símbolos de status, precisa para de ser glamourizado e aplaudido nas redes sociais. Cada curtida e compartilhamento dado a esse tipo de conteúdo reforça um ciclo de exploração, normalizando o sofrimento de seres sencientes que deveriam estar livres em seus habitats. Liberdade não é um privilégio, é um direito, e nenhuma foto ou vídeo viral justifica tirá-lo deles.