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HIPOCRISIA

Ibama combate tráfico de animais mortos, mas ignora o sofrimento das girafas traficadas que continuam aprisionadas no Rio de Janeiro

Enquanto age com rigor contra troféus de caça, o órgão falha em garantir justiça às girafas vivas vítimas do maior tráfico internacional já registrado no mundo.

24 de junho de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: UT Guarulhos/Ibama

Recentemente, duas cargas contendo partes e membros de animais selvagens protegidos por convenções internacionais foram apreendidas durante fiscalização de rotina no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP).

Entre os itens apreendidos estavam oito partes da espécie girafa-do-norte (Giraffa camelopardalis) — incluindo crânio, capa, mandíbula e quatro ossos das pernas — e um troféu de caça da espécie leão-africano (Panthera leo). As duas espécies estão listadas no Anexo II da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites), da qual o Brasil é signatário.

Foto: UT Guarulhos/Ibama

Entretanto, enquanto o Ibama divulga a apreensão das partes e membros de animais, o mesmo órgão ignora o descumprimento judicial no caso das girafas traficadas pelo Bioparque no Rio de Janeiro. Apesar da preocupação em acabar com o tráfico de animais mortos como troféus de caça ser muito importante, até para desmascarar as pessoas por trás da caça, é um pouco contraditório que o órgão ambiental não garanta a repatriação imediata das girafas.

Em 2021, 18 girafas foram traficadas do continente africano para um resort, em Mangaratiba, na Costa Verde do Rio de Janeiro, no maior caso de tráfico de animais do mundo. Dois meses depois, três delas morreram ao tentar fugir do local onde estavam confinadas. Dois anos depois, uma quarta girafa morreu de uma doença muscular.

Girafas do Bioparque em resort de Mangaratiba. Foto: Laudo da Polícia Federal

Em novembro de 2024, o Ibama determinou que as girafas traficadas pelo Bioparque fossem retiradas de lá e mandadas para países do continente africano, como Angola e África do Sul, ou para zoológicos. Seguindo a segunda opção, elas serão exploradas, e o objetivo de quem as traficou será atingido.

Entretanto, passados sete meses da decisão, nada foi feito. As 14 girafas que sobreviveram continuam encarceradas enquanto o órgão ambiental – que deveria protegê-las – procrastina e normaliza o cativeiro.

A apreensão em Guarulhos revela as contradições do caso: o Brasil, signatário da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens Ameaçadas de Extinção), multa quem trafica partes de girafas mortas, mas permite que as vivas continuem aprisionadas pelos traficantes.

O caso do Bioparque do Rio é apenas mais um exemplo da negligência sistêmica do Ibama. Se o comércio de restos mortais de girafas é crime, por que a exploração de indivíduos vivos segue impune? Enquanto o órgão se omite, as girafas pagam o preço de uma política ambiental que prioriza interesses econômicos em detrimento dos direitos animais.

É hora de o Ibama responder: quando as girafas serão, de fato, libertadas? Ou a proteção da fauna só vale quando convém?

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