Um aparente aumento dos ataques de tubarão pode ser consequência da ação humana, sendo as viagens de baixo custo, o excesso de pesca e talvez o aquecimento global as possíveis causas deste crescimento, segundo os especialistas. Esta semana foi decidido o fechamento das praias nas ilhas Seychelles depois que um tubarão atacou um britânico em lua-de-mel diante de sua esposa no segundo ataque fatal registrado no local em 15 dias.
Na região de Primorie, na costa russa banhada pelo Pacífico, um tubarão atacou um adolescente de 16 anos depois que um homem perdeu os antebraços ao defender sua esposa. No Caribe, uma mulher que passava férias em Porto Rico levou uma mordida de 30 cm enquanto nadava em um disputado ponto turístico, a baía de Vieques.
Segundo o Registro Internacional de Ataques de Tubarão (ISAF, na sigla em inglês), compilado pela Universidade da Flórida, 79 ataques não provocados de tubarão ocorreram em todo o mundo em 2010, seis deles, fatais. Este foi o número mais elevado em uma década e representou um aumento de 25% com relação a 2009, quando houve 63 ataques e seis mortes; ou de 49% com relação a 2008, com 53 ataques registrados, quatro deles mortais.
“Atenção a ataques de tubarão é superestimada”
Este ano, houve seis mortes e sete casos de ferimentos até agora, segundo uma contagem extraoficial feita pela agência AFP com base em informações divulgadas pela imprensa. Segundo especialistas, em comparação com as mortes causadas pelo tabagismo, acidentes de carro, quedas e raio e inclusive ataques de outros animais, o risco de se morrer em um ataque de tubarão é mínimo.
“A atenção dada a ataques de tubarão é completamente superestimada”, disse Agathe Lefranc, cientista do grupo francês Associação para o Estudo e a Conservação dos Seláquios (APECS), categoria que inclui tubarões e arraias. Biólogos marinhos afirmam haver poucas pesquisas sobre as causas de ataques de tubarões, mas apontam para algumas possibilidades, todas relacionadas aos próprios humanos.
A primeira é o aumento da mobilidade, com viagens aéreas e pacotes de turismo mais baratos, que permitem às pessoas nadar, fazer snorkeling, surfar e mergulhar em locais que antes não tinham qualquer presença humana. “O aumento do número de ataques de tubarão não necessariamente significa que há um crescimento na taxa de ataques de tubarão”, explicou a ISAF.
“É mais provável que seja o reflexo de um aumento do tempo que os humanos passam no mar, o que eleva a possibilidade de interação entre as duas partes afetadas”, acrescentou. David Jacoby, especialista da Associação Biológica Marinha (MBA, na sigla em inglês) em Plymouth, sudoeste da Inglaterra, afirmou que os ataques de tubarão são eventos com causas locais que frequentemente são pouco investigadas, quando o são.
Cinco ataques em um único resort
Um caso que se destaca é o do resort egípcio de Sharm el-Sheikh, onde tubarões fizeram cinco ataques em uma semana entre novembro e dezembro do ano passado, um deles fatal. O dedo acusador foi apontado para um navio de transporte de gado, que lançou carcaças de ovelhas ao mar e a operadores que, ilegalmente, alimentaram os tubarões para animar os turistas.
Outra questão ainda sem resposta seria o impacto no comportamento dos tubarões da sobrepesca e do aquecimento global, que afeta as temperaturas e as correntes oceânicas. “Nós sabemos que estes animais vão aonde há fontes de comida disponíveis, e estes recursos se mudam e dependem de locais e correntes ricos em nutrientes”, disse Jacoby.
“Não só os tubarões fazem isto, mas todos os grandes predadores pelágicos são atraídos para áreas onde há grande disponibilidade de comida. Mas ainda não está claro se este é um caso de aumento da atividade humana”, emendou. Um peixe altamente bem sucedido em termos evolutivos, com uma linhagem que data de mais de 400 milhões de anos, o tubarão tem sofrido o ataque implacável dos humanos.
Um terço das espécies de mar aberto, inclusive o grande branco e o tubarão-martelo, estão em risco de extinção, devido em parte à demanda asiática pela sopa de barbatana de tubarão, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Fonte: Terra