De acordo com descoberta, nos próximos 50 anos as pessoas irão se espalhar ainda mais sobre os habitats dos animais selvagens em mais da metade das terras do planeta, ameaçando a biodiversidade e aumentando a chance de futuras pandemias.
Os seres humanos já transformaram ou ocuparam entre 70% e 75% das terras do mundo. Um estudo publicado hoje (21/08) na revista Science Advances revelou que a sobreposição entre populações humanas e animais selvagens deve aumentar em 57% das terras do planeta até 2070, impulsionada pelo crescimento populacional humano.
“Há lugares, como florestas, onde praticamente não há pessoas, e onde começaremos a ver uma maior presença e atividades humanas, e interações com a vida selvagem”, disse Neil Carter, o principal pesquisador do estudo e professor associado de meio ambiente e sustentabilidade na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
“As pessoas estão aumentando suas pressões e impactos negativos sobre … espécies, algo que já observamos há muitos anos. Isso faz parte da causa da crise de perda de biodiversidade em que estamos”, afirmou Carter.
À medida que humanos e animais compartilham paisagens cada vez mais lotadas, a maior sobreposição pode resultar em um maior potencial para transmissão de doenças, perda de biodiversidade, pessoas matando animais e a vida selvagem se alimentando de colheitas, disseram os cientistas.
A perda de biodiversidade é o principal fator de surtos de doenças infecciosas. Cerca de 75% das doenças emergentes em humanos são zoonóticas, ou seja, podem ser transmitidas de animais para humanos, e muitas doenças que preocupam as autoridades de saúde global – incluindo Covid-19, mpox, gripe aviária e gripe suína – provavelmente se originaram na vida selvagem. Compreender onde as pessoas e a vida selvagem irão se sobrepor é essencial para prevenir “a aceleração da transmissão viral da vida selvagem”, disse Kim Gruetzmacher, veterinária de conservação da vida selvagem e pesquisadora que não participou do estudo, ao The Guardian.
“A grande maioria – até 75% – das doenças infecciosas emergentes (que podem levar a epidemias e pandemias) vêm de animais não-humanos, sendo que a maioria se origina na vida selvagem”, acrescentou Gruetzmacher. “Não é a vida selvagem em si que representa um risco, mas nosso comportamento e o contato específico com ela.”
Para prever a futura convivência entre humanos e vida selvagem, os pesquisadores da Universidade de Michigan compararam estimativas de onde as pessoas provavelmente irão habitar com a distribuição espacial de mais de 22 mil espécies.
Eles descobriram que a expansão da sobreposição entre humanos e animais será mais concentrada em regiões onde a densidade populacional humana já é alta, como na Índia e na China. Áreas agrícolas e florestais na África e na América do Sul também experimentarão aumentos substanciais na sobreposição.
No entanto, em algumas regiões, a sobreposição entre humanos e vida selvagem foi projetada para reduzir, incluindo mais de 20% das terras na Europa.
Esse tipo de análise pode orientar os formuladores de políticas a evitar os encontros entre humanos e vida selvagem e focar mais na proteção da riqueza de espécies, de acordo com Deqiang Ma, autor principal do estudo e pesquisador pós-doutorado no Instituto de Biologia de Mudanças Globais da Universidade de Michigan.
Rob Cooke, modelador ecológico do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, que não participou do estudo, disse que o estudo fornece “uma visão geral do que está acontecendo e do que pode mudar”, mas mais pesquisas são necessárias para entender “quais espécies e como vamos interagir, e quais as repercussões disso”.
Traduzido de The Guardian