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Humanos exageram ao forçar aprendizado dos animais e negligenciam sua 'inteligência amorosa'

20 de fevereiro de 2011
2 min. de leitura
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Os estudiosos andam pecando pelo exagero em torno do aprendizado de uma cadela border collie americana, que compreende – ou identifica como objetos – mais de mil palavras do nosso vocabulário.

Ao lado de Chaser, aparecem chimpanzés, que do alto de seus 98% de DNA igual ao humano, consegue aprender um outro tanto de significantes. E, aqui no Brasil, o Fantástico mostrou há pouco tempo um cão paranaense que trazia corretamente as ferramentas pedidas para seu dono mecânico consertar os carros.

Como se isso fosse o melhor que eles, os bichos em geral e os cães em particular, pudessem apresentar ao mundo. Não sua intuição e seu faro apurados. A audição acima de qualquer suspeita. Ou a agilidade da qual nem o maior atleta se aproxima. Não o instinto perspicaz, capaz de detectar a chegada do tutor com vários minutos de antecedência. Não a capacidade de não criticar e aceitar os maiores desatinos humanos como se fossem normais. Não a afetividade despida de segundas intenções. Nem mesmo a enorme faculdade de adaptação a circunstâncias às vezes bem desfavoráveis.

Inventou-se há alguns anos uma tal de inteligência emocional, conceito que traduziu uma certa evolução sobre a supremacia da inteligência racional. Os bichos, por seu lado, contam com uma inteligência amorosa, digamos, que os guia por caminhos que quase nunca conseguimos entender. Ou imitar. E isso não em nada a ver com eles saberem o nome da bola azul, do osso vermelho ou da chave de fenda.

Vale uma inversão para tentar entender melhor. Imagine-se um cão, um schnauzer, por exemplo, que decide ensinar ao tutor, o qual ele ama muito, as diferenças entre os latidos. Para que entre os dois não ocorram mais mal-entendidos.

Passam-se anos, o cão já está de barbas bem brancas e é convidado a dar um depoimento na rádio Uivo, ou algo equivalente. E com a sinceridade que lhe é peculiar à espécie admite que fracassou. “Até hoje”, diz ele, “quando faço o latido de querer sair para fazer xixi, meu tutor pensa que estão batendo à porta. E quando digo que estou com fome, ele corre a buscar a coleira para passearmos. Eu, claro, não vou corrigi-lo. Então saio feliz ao seu lado e até esqueço que já passou da hora do almoço e meu estômago está roncando”.

Fonte: Folha de S. Paulo

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