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CONSCIENTIZAÇÃO

Ator Hugo Bonemer nada em aquário para monstrar exploração: "Me senti o próprio animal amestrado"

Ativista, o apresentador e ator encara o desafio de inverter os papéis com animais e nada em tanque de água na obra de Eduardo Srur. Ele propõe a reflexão: O que você pensa sobre animais serem usados como entretenimento humano?

24 de julho de 2022
5 min. de leitura
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Foto: Felipe Gonzaga

A gente cresce com histórias dos animais, aprende a ler e escrever com eles, dorme abraçado com eles. Onde é que a gente se perde? Eu sou Hugo Bonemer e estou como colunista convidado da revista “Quem” para falar sobre sustentabilidade.

Para isso chamei mais artistas para desenvolvermos o discurso juntos por meio da arte e então, relato essa experiência. Acompanho o Eduardo Srur no Instagram, e na cara dura mandei direct pedindo para fazer uma intervenção numa obra dele que estava no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Ele me perguntou: você sente frio?

Foto: Felipe Gonzaga
Foto: Felipe Gonzaga

Um dia antes fui até o parque e passei cerca de duas horas observando. É interessante demais ver como as diferentes pessoas reagiam à obra do Eduardo Srur. Algumas só tiravam foto com o urso e iam embora, outras sugeriam em voz alta que se trataria do lixo plástico no oceano. Poucas percebiam que se tratava de uma inversão de papéis de exploração Homem x Animal. E ali sentado, vestindo três blusas de frio, comecei a me perguntar que diabos eu tinha inventado fazer com a minha vida.

Combinamos códigos de segurança caso eu tivesse uma câimbra ou hipotermia e pedi também ajuda de amigos queridos. Renato Buratto e Ildeu Lazarini filmariam e Felipe Gonzaga fotografaria.

Foto: Felipe Gonzaga

Cheguei cedo, me aqueci, me alonguei, pedi proteção para que aquilo não acabasse numa morte besta e que a mensagem fosse transmitida e acolhida. Quando entrei no tanque fazia 13 graus em São Paulo e me perguntei se estava fazendo algo que impactaria na vida de alguém e minimamente nas vidas dos animais. A resposta veio rápido, e de repente senti um prazer súbito. Nossa! Eu que sou friorento e durmo de meia e gorro o ano todo senti como se tivesse virado um animal que é explorado vivendo em situações assim. Me empolguei e nadava como louco. Até que numa das puxadas de ar fui com tudo pra superfície e bati a cabeça numa viga que atravessava o tanque, mergulhei de novo pro outro lado e paf! Bati de novo! Mas como assim? Tinha outra!

Foto: Felipe Gonzaga

Depois disso perdi completamente a noção do espaço e saí topando em todo lugar, e ao olhar pro público embaçado através do acrílico me lembrei que quando ainda subia pela lateral do tanque, me sentei na beiradinha pra criar coragem e vi as duas vigas, mas uma senhora puxou o coro do “pula logo!” e me senti pressionado a entrar com pressa. E ali, com essa memória, com a cabeça doendo e com o corpo congelando, me senti o próprio animal amestrado e explorado, servindo às expectativas de um público exigente.

Foto: Felipe Gonzaga
Foto: Felipe Gonzaga

Talvez eu já faça isso como profissão, a diferença é que eu tenho como optar né? Desistir, escapar, declinar a oferta do entretenimento. Eu tenho escolha. O animal não. O período de clausura dos últimos anos me expandiu um desconforto que eu não sabia que sentia ao ver os animais enjaulados. De repente, hoje, não consigo me imaginar sendo feliz num passeio de zoológico. Será que eles deveriam sequer existir?

Foto: Felipe Gonzaga

Alguns documentários como Blackfish sobre a orca Tilikum me fizeram muito empático com essa questão. Animais que têm toda uma natureza para descobrir e viram objeto de entretenimento num cercadinho. Domingo no parque, famílias passeando e de repente, um urso polar olhando para um aquário em que nada uma pessoa. O que essa obra te causa? Seria um doido? Um vândalo? O remake de Splash! Uma sereia em minha vida?

Foto: Felipe Gonzaga
Foto: Felipe Gonzaga

Quais reflexões você mesmo cria ao se deparar com essas imagens? Por que submetemos animais a situações que não aceitaríamos que nenhum humano fosse submetido? Quais alternativas tecnológicas poderiam suprir a nossa egoísta necessidade de interação com animais selvagens? Sinto que de tempos em tempos discutimos se determinadas vidas valem a pena. O que você pensa sobre animais serem usados como entretenimento humano?

Foto: Felipe Gonzaga

Obra: VIDA LIVRE
Artista convidado: Eduardo Srur
Fotos: Felipe Gonzaga
Video: Renato Buratto e Ildeu Lazarini
Direção/ Edição/ Produção e Texto: Hugo Bonemer

Foto: Felipe Gonzaga
Foto: Felipe Gonzaga
Foto: Felipe Gonzaga
Foto: Felipe Gonzaga

Fonte: Revista Quem

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