Em um ato de amor e lealdade que mostra a crueldade de uma sociedade que exclui os animais, um homem em situação de rua preferiu enfrentar a morte a se separar de seu cachorro. Juan Carlos Leiva sucumbiu à hipotermia após recusar abrigo, já que locais de acolhimento se negam a aceitar famílias multiespécies, condenando humanos e animais ao sofrimento.
Conhecido nas ruas do centro da cidade de Mendoza, na Argentina, Juan era visto há meses dormindo na entrada de um prédio ao lado de Sultan, seu cão e único laço afetivo. Mesmo com temperaturas despencando e seu estado de saúde se agravando com infecções, pneumonia e dificuldade para respirar, ele rejeitou repetidas ofertas de ajuda, pois não abandonaria seu companheiro.
Maria del Carmen Navarro, faxineira do edifício onde Juan costumava se abrigar, foi uma das pessoas que tentou convencê-lo a procurar ajuda. “Eu disse que levaria o cachorro comigo, que ele estaria seguro, mas Juan não queria deixá-lo. Ele só falava que precisava cuidar dele”, contou a mulher ao jornal argentino TN Notícias.
Apenas quando ela prometeu proteger o animal pessoalmente, Juan aceitou ser hospitalizado, mas já era tarde. Internado no Hospital Scaravelli, em Tunuyán, ele não resistiu às consequências do frio extremo e de anos de negligência social. Enquanto isso, Sultan aguardava, inconsciente de que jamais veria seu tutor novamente.
Maria cumpriu sua promessa: levou o cão para casa, construiu-lhe um abrigo com o colchão que pertencia a Juan. “Cumpri o que prometi a ele”, disse.
Como já abrigava outros animais resgatados, Maria buscou um lar definitivo para o cão. A filha dos donos de um quiosque da vizinhança, que conhecia o cachorro e seu tutor há anos, adotou o Sultan.
O caso expõe uma falha brutal no sistema que ignora o vínculo entre humanos e animais. Se abrigos não rejeitassem cães e gatos, Juan ainda estaria vivo.