José Ananias, de 59 anos, vive há 10 anos embaixo da ponte da avenida 24 de Outubro, no Setor Campinas, em Goiânia (GO). Com mais de 20 cães sob a sua tutela, ele aguarda a doação de um lote por parte da prefeitura após receber uma espécie de “ordem de despejo”.
“Todos os cachorros abandonados de Goiânia são meus. Já perdi as contas de quantos cachorros eu cuido. Não peço dinheiro para os outros. Peço carne para os cachorros”, disse ao G1. “Há dez anos vivo aqui e passo todas as dificuldades que existem. Chuva, frio, falta de ração para os cachorros. Hoje tenho uma bicicleta, que arranjei tem uma semana, que serve como muleta”, completou. Para sobreviver, ele atua como catador de recicláveis.
A Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) e a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) buscam, com a ajuda de representantes da sociedade civil, uma solução para o caso de José Ananias desde que a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) emitiu uma notificação solicitando que o homem deixasse o espaço que ocupa embaixo da ponte.
Em fevereiro, durante uma reunião, o secretário de Planejamento de Goiânia, Henrique Alves, comprometeu-se a emitir um termo doando um lote no Jardim Petrópolis para que José pudesse construir uma casa para viver com seus cães.
Comovido com a história, o engenheiro civil Paulo Henrique Gonçalves de Melo elaborou, de forma voluntária, um projeto de residência para José e os cachorros. O profissional aguarda a conclusão da doação do lote para iniciar a construção. Paulo irá ajudar com a mão de obra e todos os materiais necessários.
A Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) afirmou ao G1, através de um e-mail, que José espera “se mudar daqui quatro meses para a casa que vão construir e ter uma vida melhor”. O caso é acompanhado também pela procuradora do estado e vizinha de José, Márcia Alves da Mota. Considerada uma mãe pelo homem em situação de rua, ela espera que o caso se solucione em breve.
“A nossa intenção é que seja construída uma unidade socioambiental na área com uma rede de doações para manter os animais com qualidade de vida, próximos à natureza”, disse. Segundo ela, separar José dos cachorros, conforme foi sugerido por alguns moradores do Setor Campinas, não é uma opção adequada. “A Defensoria Pública do Estado emitiu um laudo que concluiu que o José considera os animais como família dele. Não há como apartá-los”, explicou.
Com base na história de José e seus cães, a procuradora se uniu à entidade Pão com Amor para realizar a campanha “Não aubandone jamais”. Com lançamento previsto para o próximo mês, a campanha tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre o abandono de animais na capital, mostrando que “ninguém é tão pobre que não consiga ajudar”.
Ao falar sobre a própria história, José é discreto. Ele conta que mora nas ruas há dez anos, que já trabalhou na roça e como montador de peças no interior, mas que depois veio viver na capital, onde teria ganhado, de boca, um lote para viver com a esposa. De acordo com relatos de amigos, José teria sido despejado após ficar viúvo e, desde então, vive em situação de rua.
“Tem muita gente que abandona cachorros aqui, na maioria das vezes doentes. Eu tenho até que cavar e enterrar, porque ninguém ajuda. E as pessoas sabem que eu não tenho coragem de abandonar os animais, aí continuam largando eles aqui”, concluiu o catador de recicláveis.