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CONSUMO DESTRUTIVO

Holocausto: milhões de tubarões são mortos para a produção de sopas em todo o mundo

18 de novembro de 2022
10 min. de leitura
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Foto: Stan Shea/IFAW

Já publicamos inúmeras matérias sobre a crueldade que é a matança de tubarões com a intenção de aproveitar tão somente suas barbatanas numa receita culinária considerada ‘iguaria’ nos países do Oriente. Mas agora, para fazer justiça, publicamos este post para mostrar que não são apenas os países da Ásia a terem sopa de barbatanas nos cardápios de restaurantes.

Antes de mais nada, é preciso informar que por causa deste hábito, e dependendo da fonte, entre 70 e 100 milhões de animais são cruelmente trucidados anualmente: pescadores decepam as barbatanas, e devolvem os tubarões vivos para morrerem nas profundezas. Sopa de barbatanas de tubarões, indecência Ocidental.

Os tubarões

Eles são animais que fazem parte do mesmo grupo das arraias e quimeras, cujo esqueleto é predominantemente formado por cartilagem. De antemão, seus corpos são perfeitos em sua hidrodinâmica. Segundo o WWF, ‘com registros fósseis que datam de 400 milhões de anos, os tubarões sobreviveram aos dinossauros bem como a muitas outras formas de vida na Terra. Existem mais de 1.000 espécies de tubarões e raias, com novas espécies descobertas a cada ano.’

Contudo, há um grande problema: a desinformação que faz com que eles tenham uma fama ruim de ‘animais comedores de pessoas’. Bobagem.

Por exemplo, uma pesquisa do Museu de História Natural da Flórida mostrou que, entre 2001 e 2013, 364 pessoas morreram atacadas por cachorros. Enquanto isso, no mesmo período apenas 11 pessoas morreram por ataques de tubarões.

Do mesmo modo, o que é mais comum: ataques de tubarões ou relâmpagos atingindo pessoas? E, aí, não tem certeza? Pois saiba que o Museu de História Natural da Flórida fez a pesquisa e constatou que ‘relâmpagos atingindo pessoas são muito mais comuns que os ataques (Nos EUA).’

São animais belíssimos e bem dotados que dominam os mares há pelo menos 400 milhões de anos. Tudo neles é especial. Da forma perfeita, às características da pele, entre tantas outras qualidades. E, claro, o sexto sentido.

Foto: www.speedendurance.com

A bestialidade da indústria da pesca mundial

Contudo, a bestialidade da indústria da pesca mundial os ameaça seriamente. Em outras palavras, os chacina aos milhões anualmente, da forma mais cruel e dolorosa possível. Pior: a infâmia acontece em razão de um caldo insípido, mesmo tendo a ONU aprovado em 1978 a Declaração Universal dos Direitos dos Animais pela Unesco, que em seu terceiro artigo enuncia: ‘Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis’, e ‘Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor ou angústia’.

Pois bem, para encerrar este tópico, perguntamos: você sabia que peixes sentem dor? Publicamos um post sobre o tema, Afinal, peixes sentem dor? Acompanhe a discussão.

Nele, há esta declaração de Sylvia Earle, a mais conceituada e conhecida cientista da vida marinha: Peixes sentem dor? ‘Acho espantosa a pergunta,’ respondeu. ‘Como cientista é senso comum. Peixes têm um sistema nervoso e têm os elementos básicos que todos vertebrados têm.’

Sylvia prossegue dizendo que fingir não saber nada mais é que ‘uma justificativa para fazer coisas covardes com criaturas inocentes’. E finaliza, ‘é a única explicação que encontro para tratarem os peixes com uma atitude tão cruel’.

Ainda que não fosse necessária a confirmação, o Mar Sem Fim entrevistou Alexander Turra, diretor do Instituto Oceanográfico da USP: ‘Sim, peixes sentem dor, mas não têm expressão facial, por isso parece que não. Todos organismos com neurônios sentem “dor”, pois isso tem a ver diretamente com a forma como eles se relacionam com o ambiente’.

Leia o texto e não se omita. Além disso, passe para amigos e parentes. Espalhe tanto quanto puder. Antes de condenar os tubarões, temos a obrigação de denunciar a estupidez, brutalidade, e negligência da indústria mundial da pesca.

Globalmente, um efeito devastador sobre os tubarões

Segundo o hakaimagazine.com, globalmente, as barbatanas têm um efeito devastador sobre os tubarões. Cerca de 73 milhões de tubarões são mortos a cada ano em razão apenas de suas barbatanas. A maioria vai para a China e países asiáticos vizinhos. Nestes países vendem-se barbatanas por até US$ 1.100 o quilo.

A retirada das barbatanas, prossegue, é uma prática notoriamente cruel. E, além do mais, um desperdício. Os pescadores içam um tubarão em seu barco, cortam suas barbatanas e depois jogam o animal de volta na água – muitas vezes vivo – para se afogar ou sangrar até morrer.

Como resultado, a demanda por barbatanas contribuiu para o declínio de algumas espécies em mais de 90%, além de deixar um terço de todos os tubarões e raias ameaçados de extinção, conclui o hakaimagazine.com.

Em primeiro lugar, a tradição começou na China. Há relatos nos escritos das dinastias Ming e Qing, sempre como uma “parte tradicional dos banquetes formais”. A culinária chinesa considera esta sopa insípida (por ser uma cartilagem) um dos oito alimentos mais preciosos do mar.

Austrália, Reino Unido, grande parte dos Estados Unidos e Canadá, além de Portugal, Espanha, Holanda, França e Itália

Contudo, estes ricos países ocidentais também permitem que a ‘iguaria’ seja vendida em vários de seus restaurantes, mesmo sabendo do declínio de algumas espécies em mais de 90%. Enquanto outros são fornecedores para a China.

A partir desta lista, uma novidade para nós, pesquisamos para descobrir quais são os países que ainda permitem a barbaridade.

Foto: Thaya Mirinda Dinkel/IFAW

Canadá e suas idiossincrasias

Segundo o awionline.org, ‘Em 2019, o Canadá promulgou a proibição da importação e exportação de barbatanas de tubarão que ainda não estão naturalmente ligadas ao resto do animal, ou seja, apenas a barbatana, tornando-se a primeira nação do G 20 a fazê-lo.’

Por outro lado, segundo o hakaimagazine.com, ‘o Canadá é um ator importante no comércio global de barbatanas de tubarão. Uma investigação recente acrescenta um detalhe enervante à história: a maioria das barbatanas à venda no Canadá podem pertencer a espécies ameaçadas de extinção.’

‘A descoberta veio de uma equipe de ativistas e pesquisadores que usaram uma mistura de investigação secreta e análise de DNA de ponta para identificar exatamente quais espécies de tubarões estão sendo vendidas nos mercados canadenses.’

Além disso, informa a mesma fonte, ‘o Canadá é considerado por alguns como o maior importador fora da Ásia, representando quase dois por cento do mercado global. Apesar do fato de pelo menos 17 distritos terem proibido a venda de barbatanas de tubarão e uma lei federal de 1994 proibir a prática do corte de barbatanas, o Canadá ainda importa uma enorme quantidade de barbatanas de tubarão – 140.000 quilos em 2016.

Reino Unido e a ‘iguaria’

O site awionline.org, ao dizer que ‘o Canadá foi a primeira nação do G 20 a proibir que as barbatanas fossem vendidas’, contempla a suposição de que muitos outros países ricos, membros do G 20, ainda permitem a importação e exportação de barbatanas.

Outra matéria, do inglês Guardian, confirma: ‘No Reino Unido, onde a remoção das barbatanas de tubarão é proibida – como em todos os estados da UE – a sopa ainda está no menu em uma dúzia de restaurantes, embora muitos outros tenham parado de servi-la.’

Ou seja, na Comunidade Europeia não há nada que impeça os restaurantes de importar e servir sopa de barbatanas o que é, no mínimo, ambíguo.

Comunidade Europeia é fornecedora de barbatanas para a China

O Guardian, em matéria de 2022, informa ainda que O Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW) analisou quase duas décadas de dados alfandegários em três grandes centros comerciais asiáticos de 2003 a 2020. Constatou que, embora o principal mercado para produtos relacionados a barbatanas seja na Ásia, os países da UE – liderados pela Espanha, Portugal, Holanda, França e Itália – são um player significativo no abastecimento deste mercado.

Segundo o www.euronews.com, as barbatanas de tubarões vivos, cortadas a bordo de barcos de pesca antes de serem jogados de volta na água, já são proibidas na UE. Entretanto, ainda há permissão para o desembarque e a venda de tubarões inteiros, mas não para espécies listadas pela CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora.

Portanto, fica claro que estes países agem cinicamente. Alguns proíbem a remoção de barbatanas. Enquanto isso, outros são os maiores fornecedores para a China. Como assim?

Foto: https://seasave.org/shark

A Ifaw e o comércio de barbatanas de tubarões

O mais completo estudo sobre este comércio torpe é o do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal -IFAW – (cujo link está grifado). Ele não deixa dúvidas a respeito da cumplicidade da Comunidade Europeia.

‘UE é uma participante significativa no comércio global de barbatanas de tubarão como um núcleo fornecedor para os mercados asiáticos.’

‘A UE é uma das principais fontes de barbatanas de tubarão para os centros de comércio global de Hong Kong, Singapura e Taiwan, onde se estima que passe mais de 50% do comércio global.’

Estados Unidos e a sopa de barbatanas de tubarões

Segundo o inhabitat.com, Uma atualização recente do banco de dados digital mantido pelo Animal Welfare Institute indica que quase 200 restaurantes em todo os Estados Unidos oferecem sopa de barbatana de tubarão e outros produtos de tubarão, apesar de serem proibidos em mais de 12 estados.

Nota-se novamente um certo cinismo dos países ricos do Norte ao ‘proibirem’, entre aspas, ao mesmo tempo em que permitem exportações, ou vendas em restaurantes para consumidores irresponsáveis.

Ao permitirem que a crueldade prossiga, igualam o Ocidente ao Oriente na predação da vida marinha.

National Geographic: responsabilidade do Brasil e da Austrália

A icônica revista também abordou o assunto em matéria de 2020 que comenta um estudo feito com mais de cinco mil amostras de barbatanas nos mercados asiáticos e dos Estados Unidos.

‘Os autores analisaram mais de 5.000 amostras de barbatanas de tubarões de mercados em Hong Kong, Vancouver, São Francisco e na Costa Norte do Brasil. Embora os autores enfatizem que essas amostras não pretendem ser uma representação completa do comércio global, a maioria das barbatanas testadas veio de tubarões capturados nas águas territoriais de apenas alguns países. Esta lista inclui alguns que são conhecidos por sua pesca, como Indonésia, Japão e México, e alguns que surpreenderam os autores: Austrália e Brasil.’

Já denunciamos que o Brasil faz parte das nações que, da mesma forma, permitem o corte e venda de barbatanas de tubarão.

Para além disso, nossas autoridades fazem vistas grossas para outro absurdo: a venda de carne de tubarões em supermercados como se fossem de outra espécie, os ‘cações’ que nada mais são que um sinônimo de ‘tubarões’.

A importância dos predadores marinhos para os ecossistemas

O mais inaceitável, depois da estúpida crueldade, é o fato de que os predadores são importantíssimos aos ecossistemas.

Predadores de topo de cadeia são responsáveis pela manutenção do equilíbrio no ecossistema marinho. Eles se alimentam de peixes e invertebrados que estão menos aptos à sobrevivência, garantindo a saúde dos estoques pesqueiros de todo o mundo.

Ao acabar com eles, como vem acontecendo por motivos fúteis e mesquinhos, a pesca industrial está contribuindo para um tremendo e definitivo abalo em toda a cadeia de vida dos oceanos. Eliminando os tubarões, a pesca acaba com o que os pescadores mais precisam: abundância de peixes!

Fonte: Mar Sem Fim

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