EnglishEspañolPortuguês

Histórias de amor entre animais e seus tutores

13 de junho de 2010
8 min. de leitura
A-
A+

“A concorrência aqui é grande”

Carla Troianelli tutela dez cachorros. (Foto: Reprodução Veja S. Paulo)

Napoleão, lhasa apso, 5 anos
Tutora: Carla Troianelli, designer de interiores e estudante de veterinária, 44 anos

Esse bonitão aí grudado na lente da câmera sou eu: Napoleão, o imperador. Tenho muitas vontades e não nego. A culpa é da Carla, minha tutora. Carioca da gema, ela se mudou para São Paulo cinco anos atrás. Veio acompanhando o marido, Gabriel, advogado. Ela me contou que, antes de me conhecer, chorou um mês inteirinho, sem parar. Sentia-se sozinha, sem amigos e abandonada no apartamento onde morava, em Moema. Nem precisa dizer que apareci para mudar o curso da história, né? Era agosto quando ela me buscou em um canil lá em Guarulhos. Foi amor à primeira latida. Até o Gabriel, que não estava lá muito contente com a novidade, se apaixonou por mim. Fiquei bem bravo quando apareceram com uma lhasa branquinha e bem-educada, a Marie Louise, dizendo que ela moraria com a gente. Nove meses depois, quase fui destronado quando pintou o Theobaldo, com sua pelugem preta. Ele adentrou nosso lar, conquistou o coração da Malu e tiveram cinco filhotes. Encantada, Carla decidiu tornar-se criadora de cães. Nós nos mudamos para uma casa maior, adaptada às nossas necessidades. E ganhamos muitos novos companheiros — somos dez, atualmente. Todos com nomes de origem francesa: Clotilde, Dagoberto, Blanche, Radegunda, Matilde, Carlos Magno e Josephine. A concorrência aqui é grande, mas o rei da casa sou eu.”


“Já fiquei trancada na máquina de lavar”

Flor, vira-lata, 1 ano e meio
Tutores: Lucas e Gabriel Martins Schiante, estudantes, 8 e 16 anos

Lucas e Gabriel são os tutores da Flor (Foto: Mario Rorigues/Veja SP)
Lucas e Gabriel são os tutores da Flor (Foto: Mario Rorigues/Veja SP)

Uma gata vizinha bem folgada, a Kitty, adora pular o muro para me provocar. Corro atrás dela que nem louca para mostrar que este pedaço aqui é muito, mas muito meu, sabe como é? Eu sou a Flor, filha de siamês com vira-lata. Para fazer jus ao nome, tenho meus espinhos, que mostro apenas de vez em quando. Como nesta semana, quando apareceu um moço com uma caixa que chamavam de câmera fotográfica. Saíam umas luzes fortes daquilo que me tiraram do sério. O Lucas e o Gabriel, meus tutores, disseram que eu estava parecendo uma oncinha. A última vez em que eu havia perdido as estribeiras desse jeito foi quando a Vilma, a mãe deles, nem viu que eu estava dentro da máquina de lavar e trancou a porta. É que eu gosto tanto, tanto, tanto dela que adoro segui-la por toda parte. Fiquei curiosa quando vi aquela portinha redonda aberta e me enfiei lá dentro. Berrei muito até me tirarem dali. Por pouco eu não — miau! — sabe como é?”


“Elas acabaram com a minha temporada na praça” 

Livia e Rachel de Almeida são as tutoras da vira-lata Neguinha. (Foto: Fernando Moraes/Veja SP)

Neguinha, vira-lata, 10 meses
Tutoras: Livia e Rachel de Almeida, estudantes, 8 e 5 anos

Poucas vira-latas têm sorte como eu. Acredite se quiser, mas mesmo sem nenhum pedigree fui disputada por alguns humanos. Tudo começou quando eu estava vagando pelas ruas e resolvi seguir uma mulher em sua caminhada matinal. Ela percebeu minha presença na porta de sua casa, mas não me convidou para entrar. Fiquei esperando, sem sucesso. Em compensação, ganhei ração e comida. Como não sou boba, decidi ficar por lá. A praça do outro lado da rua virou meu lar. Instalaram uma casinha sob uma árvore, onde eu recebia os cuidados da Livia e da Rachel, que vinham brincar comigo várias vezes por dia. As coisas mudaram há cerca de duas semanas, quando fomos passear pelo bairro. Gostei tanto que quis repetir no dia seguinte, mas não tinha companhia. Aí, fui sozinha, pensando que saberia o caminho de volta. Gente! Eu rodava, rodava e não conseguia encontrar a praça. Fui resgatada por uma moça simpática, que me levou ao seu apartamento. Ela deixou avisos em pet shops contando que tinha encontrado uma cadela perdida e, que bom, a mãe daquelas garotinhas que adoro leu um deles. Assim nos reencontramos. De tão felizes em me rever, elas acabaram com a minha temporada na praça. Fui morar com a Livia e a Rachel e agora passo o dia no quintal, dormindo e tomando sol. Lar, doce lar.”


“Vivia numa favela antes de ser adotado pela Tania”

O pug Lee vivia na favela antes de ser adotado. (Foto: Fernando Moraes/Veja SP)

Lee, pug, 8 anos
Tutora: Tania Tavares, diretora de marketing, 35 anos

Quando alguém chega perto e passa a mão na minha cabeça, o mundo para. Encosto ali e fico só recebendo carinho. Deito no chão, faço amizade mesmo. Assim conquistei a Tania, que não me larga por nada neste mundo. ‘O Lee sofreu horrores’, ela costuma repetir. É verdade, cara! Hoje moro num apartamento bacana em Higienópolis, mas vivia em uma casa bem modesta numa favela carioca antes de ser adotado por ela. Estava com o pelo detonado, magrelo, com unhas bem compridas… Mal conseguia escutar, de tantos bichos que havia dentro da minha orelha. Fui entregue à Tania com uma corda de varal enrolada no pescoço, uma coleira improvisada. Eu a vi chorar algumas vezes. Ela dizia que era saudade da família e de São Paulo, mas que o fato de me ter ao lado a fazia aguentar a temporada no Rio de Janeiro, aonde tinha ido para estudar. E que me fazer melhorar — hoje estou fortão e esbanjo saúde — a havia ajudado a se curar de uma coisa chamada depressão. Não sei direito do que se trata, mas, por via das dúvidas, nunca saio de perto dela.”


“Adoooooro dormir”

Soneca, vira-lata, 3 anos
Tutor: Cicero Cruz, analista de sistemas, 32 anos

Cícero é o tutor da vira-lata Soneca (Foto: Mario Rodrigues/Veja SP)

Hummm, que preguiça… Vou ser breve, porque quero cochilar mais um pouquinho. Meu nome é Soneca. Sim, eu adoooooro dormir. Há três anos, quando ainda era filhote, fui jogado em uma rua na Penha. Como os moleques da vizinhança não me davam sossego, procurei abrigo no quintal de uma casa. Logo que entrei vi o Cicero, com a perna enfaixada, sentado numa cadeira de rodas. Não sou fácil, mas simpatizei tanto com ele! Já o cara deu de ombros. Ele detestava gatos, acredita? Foi a Angela, a mulher dele, quem me acolheu. Lembro-me de ouvi-la falar: ‘É só uma noite, amanhã ligo para o Adote um Gatinho’. Ainda bem que o telefonema nunca chegou a ser feito. Conquistei meu tutor aos poucos. Por causa de uma cirurgia na perna, ele ficou de molho por seis meses. Nesse tempo, não o abandonei um segundo sequer e nos tornamos grandes companheiros. Durante a tarde, faço minha sesta em cima da cama do casal! Ainda me estranho com aquela implicante da Nina, uma cachorra que já morava aqui antes de mim. Mas ela fica no quintal. Tenho certeza de que a convivência será melhor com o próximo novo membro da família: uma criança que o Cicero e a Angela vão adotar. Enquanto ainda tenho tempo, vou aproveitar o sofá só para mim! Falando nisso, bateu um cansaço… Boa noite.”


“Ela pede a São Francisco que me proteja”

O vira-lata Fedido vagava pelas ruas de Santana de Parnaíba. (Foto: Mario Rodrigues/ Veja SP)

Fedido, vira-lata, 10 anos
Tutora: Fernanda Passos, veterinária, 32 anos

Não sei se, por ter sofrido muito nesta vida, esqueci muitas coisas do meu passado. Lembro apenas que vagava sem rumo pelas ruas de Santana de Parnaíba. No início de 2009, parei na porta de um hotel para ver o movimento. Estava magro, sujo, com a pele inflamada, os pelos embolados e os olhos inchados. Tenho até vergonha de contar, mas, como não tomava banho fazia tempo, também cheirava mal. Nada disso fez com que a Fernanda, filha dos donos do hotel, me enxotasse de lá. Formada em veterinária, ela me alimentou e me encheu de carinho durante os quatro dias nos quais fiquei na calçada. Tudo a contragosto do pai, que preferia me ver longe. Depois de muita insistência dela, fui morar na chácara da família. Cheguei tímido e arredio, mas a Fernanda teve paciência. Tosou meus pelos, deu remédios e, bem-humorada, me batizou de Fedido. Continuo na minha e me dou bem com os outros sete cães e sete gatos da casa. Parece que conheço a Fernanda há tempos. Antes de dormir, ela beija meu focinho e pede a São Francisco que me proteja. Em outubro, ela vai se casar e mudar de endereço. Eu, claro, vou junto. Essa história eu jamais desejo esquecer.”

Fonte: Veja São Paulo

Você viu?

Ir para o topo