Acima de qualquer coisa, amor. É assim que a estudante de medicina veterinária Stefany de Sá Medeiros, de Curitiba, sintetiza a relação dela e do “cãoguru” Charlie Stedan. O animal, adotado por ela quando tinha apenas dois meses, nasceu sem as duas patas dianteiras.
O que pode ser interpretado como problema por alguns, para ele, não parece ser impeditivo para nada.
O apelido do cãozinho, “cãoguru”, é autoexplicativo: por fazer a maior dos movimentos com as patas de trás, se assemelha aos cangurus. A cor de Charlie, marrom, também remete aos animais que são símbolo da Austrália.
Stefany, tutora de Charlie, conta que a união dela e do animal aconteceu por acaso, durante a pandemia, em 2020.
Ela recebeu uma foto de cães para adoção e, na imagem, Charlie aparece escondido em baixo de outro animal. Em um primeiro momento, a estudante não tinha percebido que ele não tinha duas patas.
“Eu queria pegar um cachorrinho e pedi indicação em um grupo. E aí uma mulher me chamou e me mandou uma foto de uma cachorrinha. Mas por baixo dela, estava o Charlie. Ele nem aparecia direito, mas na hora eu senti que era ele […] Eu disse que gostei do que estava em baixo e pedi uma foto, mas ela me falou que ninguém ia querer adotar aquele porque ele não tinha as patas”.
A suposição da tutora dos animais não se concretizou e Stefany, junto ao namorado Daniel Felipe Moura Soares, formalizou a adoção de Charlie. Desde então ele vive com a tutora na Cidade Industrial de Curitiba.
Conscientização
Stefany e Daniel criaram um perfil para Charlie no Instagram, onde conscientizam sobre adoção de cães com deficiência. Um dos vídeos do animal, postado em janeiro deste ano, soma mais de 2 milhões de visualizações.
“Muitas pessoas têm preconceito com animal com deficiência, muitas fazem comentários ofensivos. Já recebemos mensagens de pessoas maldosas dizendo para jogarmos ele no lixo. Eu decidi adotar ele porque eu sempre quis um animal especial e pelos materiais que fazemos dele, mostramos que a vida de um cãozinho assim é completamente normal. Nós colocamos ele no Instagram com intuito de trazer maior visibilidade para este tema”.
Segundo a estudante, a rotina de Charlie é normal e ele não precisa de nenhum tipo de auxílio para realizar atividades. Quando ele era filhote, Stefany chegou a cogitar o uso de uma cadeira de auxílio para o animal, mas veterinários pediram para ela esperasse.
“Como ele era filhote, eles disseram para eu esperar porque ele ainda estava aprendendo a fazer as coisas. E havia a possibilidade de que ele se tornasse dependente da cadeira ou que ela limitasse ele de alguma forma. Quando ele fez um ano nós compramos uma, com ajuda de uma rifa, mas ele não gosta de usar. É como se, para ele, aquilo não fosse normal”.
Adoção responsável
De acordo com informações da Prefeitura de Curitiba, nos últimos três anos, 37 animais com deficiência foram adotados na capital por intermédio do Centro de Referência de Animais em Risco (CRAR). Entre 2020 e 2021, foram adotados 320 animais ao todo, incluindo os sem deficiência.
Até este domingo (30), dois cães com amputações aguardam para ser adotados em Curitiba pelo CRAR.
“Eu vejo que muitas pessoas têm medo de adotar um animal assim, por desconhecimento mesmo. Acha que vai gastar mais, vai dar mais trabalho… Mas não. Eu tenho certeza que quem tiver um, vai se surpreender positivamente. Eles são incríveis. E ensinam muito pra gente”, detalha Stefany.
No site do CRAR a prefeitura reúne serviços para adoção responsável de cães e gatos, além de materiais educativos sobre cuidados com os animais.
Fonte: G1