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A hipocrisia dos zoológicos

23 de janeiro de 2015
2 min. de leitura
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(agenciabrasil.ebc.com.br)
(agenciabrasil.ebc.com.br)

Um chimpanzé com dois picolés, um em cada mão: foi o que a imprensa mostrou em fotos e vídeos como se combatia o calor intenso dos últimos dias num zoológico brasileiro. Aqueles picolés duraram pouco minutos antes de serem devorados pelo chimpanzé, porém horas terríveis o aguardavam, quando o expediente terminasse e todos os grandes primatas fossem recolhidos aos seus cubículos noturnos, sem ventilação e com temperaturas difíceis de se resistir por qualquer ser vivo.
Todos os anos é a mesma história, fotos e vídeos de animais com blocos de gelo, sorvetes e picolés para combater as altas temperaturas do verão, porém, nunca ninguém reclamou, nem os próprios empregados de todos os zoológicos, que veem sofrer aqueles seres quando são recluídos por mais de 15 horas diárias num espaço que são celas de torturas.
Andando pelo Santuário de Grandes Primatas de madrugada, nos últimos dias em que Sorocaba bateu as temperaturas mais altas de sua história, percebi que nenhum chimpanzé estava dormindo em seus dormitórios habituais; todos tinham pegado seu Tecido-Não-Tecido (TNT) ou cobertor e foram dormir nas casas externas ou nas plataformas aéreas.
Sorte deles, pensei, que têm essa opção, o que milhares de primatas e outros grandes animais não têm morando em zoológicos, onde sua biologia é totalmente alterada, alimentando-se a noite e ficando presos em pequenos espaços desde o entardecer do dia anterior.
Por que os zoológicos trancafiam seus grandes primatas em seus tenebrosos cubículos noturnos? Uma vez fiz essa pergunta a um diretor de zoológico e depois repeti a outros anos mais tarde e a resposta foi: “Por razões de segurança dos humanos, já que teve caso de querer pular nos recintos dos mesmos, para se suicidar!”
Achei tão estapafúrdia aquela resposta, que até hoje não consegui entendê-la. Para salvar um eventual suicida humano, milhares de animais são condenados a passar 15 horas diárias como prisioneiros em ergástulas terríveis.
De que adianta se lembrar para o marketing dos zoológicos e os políticos de dar picolés aos infelizes primatas prisioneiros, a fim de mitigar a temperatura, quando horas mais tarde, na calada da noite e sem a fiscalização do público e da sociedade, os submetem às temperaturas mais insuportáveis que existem, isolados do mundo externo.
Só gente hipócrita e insensível pode submeter a tal tratamento seres inocentes que dizem “proteger e amar.”

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