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ESPÉCIE AMEAÇADA

Habitat dos esquilos-voadores deve entrar em colapso com as mudanças climáticas

11 de junho de 2025
Bharti Dharapuram
5 min. de leitura
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Foto: Umeshsrinivasan/Wikimedia Commons

Nas florestas de Sikkim e Arunachal Pradesh, ouve-se, de vez em quando, um farfalhar vindo do alto das copas. Ao olhar para cima, é possível ver manchas castanhas e marrons entre as folhas. Com sorte, pode-se presenciar um grande roedor peludo se lançando no ar, estendendo a membrana entre as patas para planar morro abaixo, com uma longa cauda espessa seguindo atrás. Trata-se de um esquilo-voador gigante.

Um estudo recente modelou a distribuição de duas espécies desses esquilos-planadores do Himalaia Oriental, utilizando dados de avistamentos e informações ambientais. Os resultados revelaram que apenas uma pequena fração da área atualmente designada como habitat dessas espécies é realmente adequada para elas. E mais: esse habitat tende a se deslocar para o oeste e a se fragmentar em pequenos e isolados pedaços devido às mudanças climáticas. As conclusões do estudo acendem um alerta para o futuro desses mamíferos pouco estudados, destacando a urgência de mais pesquisas para orientar estratégias de conservação.

Planadores enigmáticos

A subfamília Sciurinae abriga mais de 50 espécies de esquilos-voadores. Esses mamíferos se deslocam entre as árvores planando, graças a membranas parecidas com paraquedas ao longo do corpo, que lhes conferem sustentação. Adaptados à vida nas árvores, desempenham papéis importantes na polinização e na dispersão de sementes.

“Conhecemos bem os esquilos-voadores encontrados nas Américas, Europa e Japão”, comenta Nandini Rajamani, que lidera o Sciurid Lab no Instituto Indiano de Ciência da Educação e Pesquisa, em Tirupati.

“A maior diversidade desses animais está nos trópicos. Infelizmente, aqui os estudos são muito escassos”, lamenta Rajamani, destacando a carência de informações sobre os requisitos de habitat e distribuição dessas espécies. “Nas regiões mais biodiversas, paradoxalmente, sabemos menos.”

As florestas tropicais são altas, densas e em camadas — um desafio para pesquisas noturnas. “É muito difícil ver esses animais. Basta um único salto planado e eles desaparecem”, diz ela.

Outro obstáculo é a dificuldade em identificar as espécies. Muitas das maiores pertencem ao gênero Petaurista, um verdadeiro quebra-cabeça taxonômico com mais de uma dúzia de espécies distribuídas pela Ásia. “São altamente polimórficos. Há uma variação enorme na coloração da pelagem, até mesmo dentro da mesma espécie”, explica Rajamani.

“O nordeste da Índia e o Himalaia abrigam várias espécies de esquilos-voadores, mas sabemos muito pouco sobre suas relações evolutivas, ecologia e distribuição”, completa ela.

Previsões de declínio e deslocamento

O estudo utilizou modelagem ecoespacial para avaliar duas espécies: o esquilo-voador-gigante de Hodgson e o esquilo-voador-gigante do Butão, ambos distribuídos no hotspot de biodiversidade Indo-Birmanês. Embora compartilhem a região do Himalaia Oriental, suas ocorrências geográficas e altitudinais são distintas. Com base em registros de presença e dados ambientais específicos, os pesquisadores usaram aprendizado de máquina para prever a adequação dos habitats atuais e futuros.

As projeções foram feitas com base em dois cenários climáticos: um com emissões intermediárias de gases de efeito estufa e outro com emissões muito elevadas. As previsões climáticas foram aplicadas para os períodos de 2041–2060 e 2061–2080. Além disso, os modelos foram usados para avaliar como o formato e a conectividade dos habitats devem mudar.

“A modelagem de distribuição nos dá uma ideia da faixa ecológica de uma espécie com base no que já sabemos”, explica Imon Abedin, doutorando na Universidade de Bodoland e um dos autores do estudo. “É um ponto de partida para identificar áreas que merecem ser pesquisadas.”

Os resultados indicam que apenas de 4% a 14% da área reconhecida atualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) oferece habitat realmente adequado. Hoje, áreas no Nepal e na fronteira com a Índia são cruciais para a conectividade do habitat do esquilo de Hodgson, enquanto as fronteiras de Arunachal Pradesh e Sikkim com o Butão são importantes para o esquilo do Butão.

As previsões mostram declínios expressivos. Para o esquilo do Butão, que vive em florestas montanhosas isoladas, espera-se uma perda de habitat superior a 85% nas próximas décadas. Já para o esquilo de Hodgson, que habita florestas sempre-verdes em altitudes variadas, a perda de habitat varia de 10% a 80%, dependendo do cenário. Em ambos os casos, os habitats adequados devem migrar para o oeste e se tornar mais fragmentados e isolados.

Os autores alertam que, como as espécies são difíceis de detectar e os registros escassos, as previsões devem ser interpretadas com cautela.

“Espécies crípticas e restritas têm poucos registros confiáveis. O que alimenta os modelos é essencial”, observa Rajamani. Pesquisas de campo são cruciais para validar os modelos e encontrar novos pontos de ocorrência.

Sem árvores, não há esquilos-voadores

As previsões são preocupantes diante das ameaças já existentes de perda e degradação dos habitats no Himalaia Oriental. “Isso inclui a conversão de florestas para monoculturas comerciais, o desmatamento ilegal em áreas de baixa altitude e a expansão de infraestrutura”, explica Aparajita Datta, cientista da Fundação para Conservação da Natureza, que estuda interações entre plantas e animais na região.

Mudanças no uso da terra afetam a biodiversidade de maneiras diferentes. Embora a agricultura itinerante seja frequentemente responsabilizada pela perda florestal, pesquisas recentes mostram que ela pode criar uma paisagem em mosaico mais favorável à biodiversidade do que as monoculturas, afirma Datta.

“Alguns esquilos-voadores são adaptáveis e conseguem viver em plantações de frutas”, comenta Rajamani, referindo-se a observações nos Gates Ocidentais. “Mas os do gênero Petaurista precisam de florestas altas. A ausência de árvores altas é sinônimo de perda de habitat.”

O estudo reforça a necessidade urgente de pesquisas de campo em áreas indicadas pelos modelos, que podem ajudar a priorizar o monitoramento. Mapas de adequação de habitat já têm sido utilizados para avaliar o status de conservação de outras espécies, como o leopardo-nublado no Sudeste Asiático e no Himalaia, lembra Abedin. No entanto, a conservação em campo para os esquilos-voadores é complexa, já que seus habitats frequentemente cruzam fronteiras internacionais — exigindo colaboração entre países para evitar o colapso de seus ambientes naturais frente às mudanças climáticas.

Traduzido de Mongabay.

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