Há pelo menos 16.928 mil espécies de animais e plantas em risco de extinção, incluindo um terço dos anfíbios e quase um quarto dos mamíferos, segundo a última análise da União Internacional da Conservação da Natureza (UICN). Nos últimos cinco séculos, diz a organização, teriam desaparecido mais de 800 espécies e há mais 290 que se suspeita tenham sido eliminadas.
“Estamos falhando na conservação da biodiversidade. Não conseguimos parar, nem sequer desacelerar o ritmo de declínio”, disse ao DN Carlos Teixeira, vice-presidente da Liga para a Proteção da Natureza e representante da organização no último congresso da UICN.
A UICN elabora todos os anos uma lista, conhecida como lista vermelha, com as espécies em risco, mas desta vez, na véspera do Ano Internacional da Biodiversidade, resolveu fazer uma análise mais profunda. E conclui que o objetivo de inverter o ritmo de desaparecimento de espécies até 2010, estabelecido por dezenas de governos em nível mundial em 2002, não vai ser cumprido.
Aliás, considerando que foram analisados apenas 2,7% dos 1,8 milhões de espécies descritas, este número está até muito abaixo do real, salienta a UICN. Além disso, há muitos animais para os quais é difícil conseguir dados, como os tubarões, raias e os mamíferos marinhos.
Em Portugal, além do lince-ibérico, o felino mais ameaçado do mundo, um caso tão emblemático que é usado na capa do relatório, há cerca de 160 espécies na lista vermelha da organização e metade dos vertebrados estão em risco. Desde o lobo-ibérico a várias espécies de morcegos, muitos peixes de água doce e as grandes aves de rapina. “A águia-pesqueira, por exemplo, desapareceu nos últimos 10 anos”, explica Carlos Teixeira.
“A taxa atual de extinção é equivalente às taxas que encontramos em situações de catástrofes naturais, como as grandes extinções de há milhões anos. Com a agravante de essas se terem verificado durante um período de milhares de anos, enquanto estas ocorreram num espaço muito curto, os últimos 100 anos”, explica Carlos Teixeira. E que consequências podem essas extinções ter para o homem? “Arriscamos a que a qualquer momento se possa dar um colapso repentino de um ecossistemas com consequências imprevisíveis”, conclui o biólogo.
Para a UICN, a crise da biodiversidade é mesmo mais grave do que a tão falada crise econômica. “O nosso ambiente é o contexto em que existimos, a economia pode colapsar e ser reparada – não sabemos se o mesmo acontece com um ecossistema e com a Terra”, explica Carlos Teixeira. Por isso, os conservacionistas alertam para a necessidade de encontrar soluções para crise econômica que não sacrifiquem o ambiente.
Sobretudo numa altura em que as ameaças à vida selvagem podem crescer ainda mais devido ao aquecimento global, sublinha o relatório, que dedica um capítulo à região mediterrânea, onde se inclui Portugal. “É a região mais rica a nível europeu, considerada um hot spot de biodiversidade, e está em risco”, diz Carlos Teixeira.
Mas nem tudo são más notícias, diz a UICN: “As espécies podem recuperar com esforços de conservação concentrados. Em 2008, a situação de 37 mamíferos melhorou”. E estima-se que programas de conservação evitaram a extinção de 16 espécies de pássaros em 15 anos.
Fonte: DN