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Grupos ambientalistas processam o governo Trump para suspender as mudanças na Lei de Proteção às Espécies Ameaçadas

26 de agosto de 2019
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Foto: Denise Cathey/AP
Foto: Denise Cathey/AP

A vida das tartarugas marinhas já não é fácil por si só. Quando bebês elas emergem sozinhas de uma concha (ovo) e rastejam através de ameaças mortais como pássaros predatórios, cães e formigas, tudo com o objetivo de alcançar o oceano, um lugar onde os peixes podem engoli-las inteiras e fragmentos de plástico descartado lentamente as sufocam até a morte.

Agora, a mudança climática – na forma de aumento do nível do mar, aumento das temperaturas e tempestades – está acrescentando mais dificuldades existenciais ainda à vida desses répteis. Nos Estados Unidos um recente enfraquecimento das proteções de espécies ameaçadas pela administração Trump representa mais um obstáculo às tartarugas marinhas e outras criaturas ameaçadas pela crise climática.

Pensando nisso uma coalizão de grupos ambientais perpetrou uma ação judicial federal para suspender a nova interpretação do governo Trump da Lei de Espécies Ameaçadas, a lei de conservação dos Estados Unidos. As mudanças, entre outras coisas, limitarão a consideração de ameaças às espécies no “futuro previsível” e dificultarão a proteção de habitats de extrema importância para a sobrevivência de espécies.

Os conservacionistas dizem que este novo regime provavelmente desconsiderará o perigo de longo prazo representado pela mudança climática para criaturas ameaçadas, como o lince do Canadá, que deve ser eliminado em grande parte até 2100, bem como o cervo-chave da Flórida, um diminutivo ameaçado de extinção. O cervo, e o lagarto mole da Flórida, um lagarto de cinco polegadas de comprimento, residem nas Florida Keys, uma área extremamente vulnerável ao aumento do nível do mar.

O movimento da administração Trump é uma abordagem “que desconsidera às mudanças climáticas”, de acordo com Noah Greenwald, diretor do departamento de espécies ameaçadas do Centro de Diversidade Biológica, um dos grupos que esta processando o governo federal.

Karimah Schoenhut, uma advogada do Sierra Club, acrescentou: “Em face da crise climática, o resultado desse abandono de responsabilidade será a extinção”.

A Lei de Espécies Ameaçadas, que se tornou lei em 1973, foi saudada por ajudar a combater a extinção de espécies, incluindo a águia careca, o jacaré americano e a baleia jubarte.

A administração Trump disse que sua nova interpretação tornará o ato mais eficiente e favorável aos negócios. “A eficácia do ato se baseia em uma implementação clara, consistente e eficiente”, disse David Bernhardt, secretário do interior.

Mas a crise climática representa uma ameaça implacável e multifacetada às espécies que os legisladores da década de 70 ainda mal conseguiam conceber. Pesquisas recentes descobriram que é improvável que muitos animais se adaptem com rapidez suficiente ao aquecimento global, mesmo espécies como aves consideradas altamente móveis e capazes de ajustar o tempo de postura.

Na Flórida, o aumento dos mares e a escalada das temperaturas ameaçam destruir alguns dos principais habitats de nidificação de tartarugas marinhas do mundo. As praias erodidas estão “lavando” os ninhos carregados de ovos, enquanto o aumento do calor está distorcendo o sexo dos filhotes, fazendo com que se formem muito mais embriões femininos que masculinos.

Justin Perrault trabalhou para conservar as tartarugas marinhas ao longo de uma extensão de nove milhas de Juno Beach, ao norte de Miami. Ele já foi capaz de dirigir um veículo ao longo da areia em frente a um trecho de paredão, mas isso agora é impossível, já que a praia foi removida.

“Certas partes da praia ficam muito estreitas com a erosão, o que parece estar piorando”, disse triste Perrault, diretor de pesquisa do Loggerhead Marinelife Center. “Estamos chegando a tempestades mais frequentes que também aniquilam ninhos. Perdemos muito quando o furacão Irma atingiu.

Juno Beach é um dos locais mais densamente usado para fazer ninho do mundo para tartarugas comuns (Caretta caretta). Existem cerca de 21 mil ninhos na praia, incluindo tartarugas marinhas, tartarugas de couro e tartarugas verdes, com os animais pondo ovos durante a primavera e o verão. A escala desse assentamento tornaria uma tarefa enorme realocar as tartarugas em outros lugares, à medida que os mares continuassem a subir ao longo da costa baixa da Flórida.

Um trio de grupos ambientais lançou recentemente um processo separado contra o governo Trump para forçá-lo a proteger o habitat das tartarugas verdes, em um esforço para evitar o pior.

Desafios legais semelhantes estão sendo travados em relação a outras espécies abandonadas para lidar sozinhas com a mudança climática, como as famosas árvores Joshua, da Califórnia, que os cientistas preveem que na maior parte desaparecerão mesmo se as emissões de aquecimento do planeta forem rapidamente cortadas. O governo federal recentemente rejeitou uma petição para proteger as árvores sob a Lei de Espécies Ameaçadas.

“Parece que essa administração está ignorando a ciência porque não acredita na mudança climática”, disse Taylor Jones, defensor das espécies ameaçadas de extinção do WildEarth Guardians, um dos grupos que estão processando o governo. “Isso é um flagrante desrespeito à crise climática.”

Mas o grande número de mudanças ambientais desencadeadas pela crise climática significa que muitas espécies ainda podem perecer, mesmo se forem protegidas pela lei. A batalha contra a administração Trump pode acabar sendo fútil.

“A mudança climática vai, basicamente, acabar com a Lei de Espécies em Perigo, já que ela não está preparada para lidar com impactos em escala global”, disse JB Ruhl, especialista em direito ambiental da Universidade de Vanderbilt. “A lei não pode impedir isso.”

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