Já passa da meia-noite e na madrugada fria de São Paulo, um grupo de moças e rapazes se encontra em uma rua do bairro Tucuruvi, Zona Norte da capital. Eles se preparam para começar uma caçada que só pode ser feita a essa hora.
Com lanternas, armadilhas e luvas, eles partem. Os “caçadores do bem” são os defensores de animais e pertecem a “miados e latidos” , uma organização não governamental, que tem como lema abrigar, socorrer e castrar animais abandonados.
Durante a madrugada, os voluntários realizam o trabalho mais difícil: capturar os gatos que vivem nas ruas de São Paulo. O objetivo é tentar diminuir a população de animais famintos, doentes e, muitas vezes, vítimas de maus-tratos.
A caçada é no bairro da Mooca, onde em dois terrenos baldios existem cerca de 150 gatos. A intenção é examinar cada um desses gatos e castrar machos e fêmeas. Para capturá-los são usadas armadilhas chamadas de gatoeiras.
“A gente coloca desse lado, fecha e arma a entrada do outro lado. Ela funciona com mecanismo de pressão, quando o gato pisa ela se arma”, fala o ilustrados Cláudio Oliveira. Aos poucos, os gatos vão sendo capturados. “Ele está bem debilitado, ele vai ficar internado alguns dias antes de ser castrado. Inclusive, não dá nem para castrar da maneira que ele está”, explica a historiadora Tatiana Sales.
Depois de capturados, os animais são repassados para as caixas de transporte. E o trabalho continua: são quase três horas da manhã e mais um gato é resgatado. “Nós precisamos pegar pelo menos 10, essa é a quarta”, diz Tatiana. Mas o animal voltará para a rua sem o risco de contribuir no aumento da população de gatos . É impressionante o que pode acontecer em pouco tempo.
Cada casal de gatos, que não for castrado, pode dar origem a 66.088 mil gatinhos em apenas seis anos. Isso porque com apenas sete meses de vida uma gata já pode gerar novos filhotes. Ela reproduz de duas a três vezes por ano e tem, em média, seis filhotes por ninhada. Então, a castração ainda é a melhor solução para reduzir a quantidade de animais abandonados. Em quatro anos, A ONG já castrou 800 gatos.
Parece pouco, mas em seis anos eles poderiam dar origem a cerca de 26 milhões de gatos. São quatro horas da madrugada e cinco gatos foram capturados, bem menos que o esperado. Ao amanhecer, todos eles vão ser levados para castração no consultório da veterinária Fernanda Ferreira, que faz parte da ONG e que também é uma protetora.
A veterinária mora em um sítio, em Mairiporã, município perto de São Paulo. Lá, ela põe em prática as ideias que defende. Fernanda e o marido, Tiago, têm três filhos, 20 cachorros, 12 gatos, cinco ratos da raça twister e 10 coelhos. Todos os animais foram abandonados e o que mais surpreende é a origem dos coelhinhos.
“As pessoas compram na época da páscoa, para as crianças e, em torno de agosto, eles crescem, perdem a graça. Coelho não é um animal doméstico a ponto de ficar no colo. Ele se torna um animal agressivo depois, até por defesa, ele não é de morder, mas ele arranha, ele machuca, ele acaba sendo abandonado”, explica a veterinária .
“Eu sou médica veterinária, tenho três filhos e eu tento educar minhas filhas da melhor forma possível, começando pelo respeito aos animais. Eu acredito que a criança que respeita o animal hoje é a criança que respeita a raça, o sexo, a opção sexual no futuro”, relata.
Na clínica, depois de 24 horas da captura, os gatos castrados já estão prontos. Outro grupo de voluntários vai devolvê-los às ruas. Os gatinhos mais dóceis não voltam para as ruas e vão para lares temporários, que funcionam na casa de voluntários.
A empresária e voluntária da ONG miados e latidos Adriana Tschernev cedeu um espaço para receber os gatos que vêm da rua. Além dos cinco gatos que vivem na casa, sempre há hóspedes. Eles recebem comida, carinho e tudo o que precisam até que sejam adotados por meio da ONG. Quando o Globo Repórter esteve na casa da Adriana, encontrou gatinhos peludinhos de olhos azuis.
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Fonte: Globo Repórter