Um estudo publicado na quarta-feira (25) no periódico Frontiers in Marine Science revelou novos métodos de predação das orcas no sistema de Corrente Oceânica de Humboldt, na costa do Chile. Os cientistas observaram esses animais caçando golfinhos-cinzentos (Lagenorhynchus obscurus) e compartilhando as presas com outros integrantes do grupo.

O comportamento de divisão de alimento foi visto em um conjunto de orcas “Menacho”, composto por dois machos, uma fêmea, um jovem e um filhote. A descoberta foi liderada por Ana García Cegarra, da Universidade de Antofagasta, no Chile.

“Estudar orcas em seu ambiente natural é muito desafiador, pois elas são predadoras marinhas de topo, viajando longas distâncias e vivendo em alto-mar, o que dificulta a observação”, disse Cegarra, em comunicado. “Mas entender seu papel no ambiente marinho é crucial para a conservação desta espécie pouco conhecida na Corrente de Humboldt.”

A dieta das orcas costuma ter variações e as populações desses animais são diferenciadas também por sua acústica e genética. Por isso, entender seu comportamento na Corrente de Humboldt pode revelar suas similaridades com outras orcas espalhadas pelo mundo — e também o que pode ser feito para conservar esse ecossistema.

Os cientistas combinaram observações de ciência cidadã com seus próprios dados e fotos tiradas por drones para criar um mapa de monitoramento da região habitada pelas orcas. Com isso, eles observaram que as criaturas estavam caçando golfinhos-cinzentos. Isso é uma grande novidade, pois, na região, não havia relatos de predação dessa espécie.

Diferentes tipos de orcas

No hemisfério sul, existem cinco ecotipos diferentes de orcas. As do Tipo A e do Tipo B se alimentam preferencialmente de mamíferos marinhos, enquanto outras preferem peixes.

Ao que tudo indica, as orcas flagradas dividindo comida pertencem ao grupo do Tipo A, que se alimenta de mamíferos marinhos. No entanto, elas nunca foram vistas na Patagônia e possuem manchas brancas nos olhos menores do que é comumente visto no Tipo A.

“Gostaríamos de poder obter amostras de biópsia de pele para analisar seus dados genéticos, pois não há informações genéticas para orcas nesta região do sudeste do Pacífico”, disse García Cegarra. “No entanto, elas são muito esquivas e inteligentes, o que dificulta abordá-las no barco para biópsias.”

O hábito de dividir o alimento é comum nas orcas. No caso do grupo “Menacho”, pesquisadores viram que o compartilhamento acontece primeiramente entre os membros do próprio grupo e depois pode ocorrer partilha com parentes.

“O fato de termos observado filhotes recém-nascidos é importante, porque indica que elas estão tendo filhotes, mas não sabemos sua taxa de sobrevivência. Graças à ciência cidadã, podemos acompanhar a presença de orcas ao longo de milhares de quilômetros da costa do norte do Chile”, finaliza García.

Fonte: Um Só Planeta