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Grupo acampa no DF em ato contra maus-tratos no Zoonoses

3 de setembro de 2015
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Acampamento em frente à Diretoria de Vigilância Ambiental no DF (Foto: Isabella Formiga/G1)
Acampamento em frente à Diretoria de Vigilância Ambiental no DF (Foto: Isabella Formiga/G1)

Um grupo de ativistas completa nesta quinta-feira (3) seis dias acampado em frente ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do Distrito Federal. Com faixas e cartazes, os protetores pedem a troca da direção do centro e acusam os gestores de praticarem “tortura” e mortes induzidas desnecessárias de cães e gatos. A Secretaria de Saúde nega que haja maus-tratos e afirma que apenas animais com doenças que podem oferecer risco à saúde da população ou entregues pelos tutores em estado terminal são mortos.
Os ativistas se mobilizaram após divulgação de vídeo que mostrou curso realizado pela Dival para servidores sem formação veterinária aprenderem a coletar sangue em cães que seriam mortos posteriormente. Uma funcionária que não concordou com o procedimento afirmou que os cães passavam por sofrimento.
Ao G1, a Secretaria de Saúde informou que agentes de vigilância ambiental passaram por treinamento para realizar o procedimento para atuarem em campanha contra a leishmaniose e que não houve maus-tratos. Na semana passada, o Conselho Regional de Medicina Veterinária pediu esclarecimentos à Dival sobre o procedimento, mas nesta quarta ainda não havia obtido resposta do órgão.
Cadela em vídeo
A advogada Vânia Alcina de Souza, de 44 anos, diz que reconheceu a cadela Flora, que entregou para morte induzida por ter leishmaniose, nas imagens do treinamento. “Estava dando almoço para o meu bebê quando vi ela no jornal e levei um susto, porque a reportagem passou recentemente, há uns quatro dias, e ela tinha sido entregue há 15 dias”, diz. “Pensei, ‘não é possível que estejam mantendo um cachorro vivo para ficar tirando sangue várias vezes’. Fiquei em choque.”
Vânia diz que foi até o CCZ tentar buscar a cadela para levá-la de volta para casa. “Fui procurar saber o que estava acontecendo porque, afinal, a gente entrega um animal e espera que ele seja tratado com um mínimo de dignidade”, diz ela. “Alegaram que havia sido feito só uma coleta [de sangue]. Eu, honestamente, não acreditei, mas, pessoalmente, agora não posso fazer nada. Não tem o que fazer.”
A advogada diz que adotou a cadela de um abrigo de cães há seis anos. “Ela era muito mansa, extremamente dócil”, diz. “Me arrependi muito. Fui atrás para pegar meu animal de volta, porque se ainda estivesse vivo, tiraria de lá, mas não consegui localizar mais o cachorro. Fiquei muito revoltada com a situação”, diz ela.
Acampamento
Os protetores alugaram dois banheiros químicos e uma tenda grande para protegerem as barracas do sol. Durante o dia, abordam motoristas que chegam ao centro para entregarem animais a fim de evitar que alguns sejam levados à morte sem necessidade. “A gente para os carros na porta, explica para eles o que está acontecendo lá dentro e que os cães não estão sendo bem tratados”, diz a jornalista Valéria Mendes.
A protetora Carolina Mourão afirma que o grupo pretende ficar acampado no local até que o governo apresente uma proposta para trocar a gestão e mudar o centro, implementando um serviço de triagem de saúde, castração e programa voltado para a adoção.
“Os animais crescem em progressão geométrica. Se tem mortes em progressão aritmética, o CCZ está praticando o extermínio cruel e sumário para controlar a população de cães, o que é crime”, diz. “O Estado é tutor legal dos animais, inclusive os abandonados, e deveria estar tutelando e castrando […]. Quando entregam os animais para adoção sem castrar, estão alimentando a máquina de superpopulação de cães e das doenças. ”
A pasta diz que serviços como castração em massa, atendimento veterinário público e ações de bem-estar e proteção animal não se caracterizaram como ações em serviços públicos de saúde e portanto “sua gestão, elaboração, financiamento e execução não são atribuições do SUS”.
Mortes
Dados da Secretaria de Saúde apontam que nos últimos cinco anos, a Diretoria de Vigilância Ambiental matou 9.531 dos 14.964 cães e gatos recebidos pelo CCZ. O número corresponde a 63% dos animais que passaram pelo centro entre 2010 e 2014. Desse total, 3.912 (26%) foram adotados. Os outros 11% foram resgatados pelos tutores, chegaram em estado crítico ao centro e morreram ou se referem a fichas com inconsistência nas informações.
No ano passado, ativistas reuniram 10 mil assinaturas e solicitaram à Secretaria de Saúde a criação de um Comitê de Ética no CCZ. Embora o chefe do centro tenha afirmado que o pedido para criação do grupo foi encaminhado ao setor jurídico no ano passado, a Secretaria de Saúde informou ao G1 que “não tomou conhecimento” do requerimento. O objetivo do comitê, que teria participação da sociedade e de funcionários do centro, seria dar maior transparência ao trabalho realizado no CCZ, que para os ativistas, funciona como uma “caixa-preta”.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos a Animais aprovou requerimento para investigar denúncias de maus-tratos no CCZ e solicitou à Dival informações de gastos, registros de entrada, saída e mortes induzidas de cães, e laudo das procedimentos realizados.
Fonte: G1

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