Nove galinhas-d’Angola mantidas em cativeiro no BioParque do Rio morreram em decorrência da gripe aviária (H5N1), segundo confirmação do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA), do Ministério da Agricultura e Pecuária. As aves estavam alojadas na área denominada “Savana Africana”, que foi interditada por 14 dias como medida preventiva.
A morte dos animais acendeu o alerta sobre os perigos que os zoológicos representam para os próprios indivíduos não humanos ali mantidos. Embora seja comum que essas instituições se apresentem como espaços de educação ou conservação, na prática, zoológicos são locais de confinamento, onde os animais são privados de liberdade, expostos ao estresse constante e sujeitos a doenças — muitas vezes agravadas por condições artificiais e antinaturais de vida.
Como resposta ao surto, todo o parque foi temporariamente fechado e, agora, está retomando a visitação pública de forma parcial. A chamada “Savana Africana” continuará com acesso restrito até que se cumpra o prazo mínimo estipulado pelos protocolos de biossegurança. Segundo nota oficial do parque, a reabertura parcial foi autorizada “com a adoção de todas as medidas necessárias”, mas sem detalhamento sobre as mudanças efetivas.
Além das medidas internas, o caso está sendo acompanhado por órgãos estaduais, como a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro, a Secretaria de Saúde e a Superintendência de Defesa Agropecuária. Desde o dia 17 de julho, 15 pessoas que tiveram contato com as aves mortas estão sendo monitoradas. Em caso de sintomas respiratórios, os pacientes devem permanecer em isolamento domiciliar e realizar testes laboratoriais para detecção do vírus.
Apesar de casos de gripe aviária em humanos serem raros, o surto dentro do zoológico escancara os riscos do modelo de confinamento animal. A aglomeração de diferentes espécies em um mesmo espaço, fora de seus habitats naturais, representa um ambiente propício à proliferação de doenças zoonóticas — aquelas que podem ser transmitidas entre animais e humanos.
Zoológicos de outras cidades também enfrentam situações semelhantes. No mês passado, o Zoológico de Brasília foi fechado temporariamente após a detecção do vírus em um irerê, espécie de marreco silvestre encontrado morto no local. Assim como no Rio, o episódio gerou preocupação sobre a vulnerabilidade dos animais mantidos em espaços que, sob o pretexto de educação ambiental, normalizam o aprisionamento e a exposição constante.
A morte das galinhas-d’Angola deve ser vista como mais um sintoma de um sistema que falha não apenas com os animais explorados, mas também com o público, ao reforçar práticas ultrapassadas e eticamente questionáveis. Em um mundo cada vez mais consciente sobre os direitos dos animais e os riscos de pandemias associadas ao confinamento de espécies, manter zoológicos em funcionamento é perpetuar uma lógica de exploração que deveria ser revista com urgência.
A alternativa ética e sustentável passa por investimentos em santuários, em tecnologias de educação ambiental não invasivas e em políticas públicas que reconheçam o direito dos animais à liberdade. A morte dessas nove aves não pode ser apenas uma nota técnica. Deve ser um chamado à reflexão e à mudança de paradigma.