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QUEIMADAS

Grandes propriedades puxam incêndios no Cerrado, que afetaram 8,4 milhões de hectares até setembro

Nota técnica do Ipam afirma que região do Matopiba vêm concentrando a área queimada, com municípios mais afetados

15 de outubro de 2024
Redação Um Só Planeta
4 min. de leitura
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Vista de um incêndio no Cerrado em Barreiras (BA), em 1º de outubro de 2023. — Foto: NELSON ALMEIDA/AFP via Getty Images

Dados publicados pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) nesta terça-feira (15) indicam que grandes propriedades do Matopiba (região de fronteira dos estados de Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia) vêm concentrando a área queimada do Cerrado em 2024, que foi de 8,4 milhões de hectares até setembro, de acordo com monitoramento.

Imóveis privados foram a categoria fundiária com maior área queimada (3,9 milhões de hectares), seguida pelas terras indígenas (2,83 milhões de hectares). Quilombos e assentamentos foram as únicas categorias fundiárias com redução da área queimada quando comparadas à média dos anos anteriores, informa o instituto.

A lista dos municípios com maior área queimada é composta por cidades de Mato Grosso, Tocantins e Bahia, cidades perto da fronteira com a Amazônia e na região do Matopiba. Com uma área queimada superior a 293 mil hectares, Formoso do Araguaia (TO) lidera. Cocalinho (MT) e Ribeirão da Castanheira (MT) ficam, respectivamente, em segundo e terceiro lugar.

Com “cicatrizes de fogo” que chegaram a 2,3 milhões de hectares, 27% do total queimado entre janeiro e setembro, grandes imóveis privados superam médios (859 mil hectares) e pequenos imóveis (649 mil hectares) em área queimada, destaca o relatório.

Com um crescimento de 232%, as áreas militares tiveram o maior salto de área atingida entre janeiro e setembro de 2024, seguidas pelas terras indígenas (105%) e pelas unidades de conservação (83%).

“A seca no Cerrado impulsionou a expansão da área queimada em quase todas as categorias fundiárias. Para enfrentar esse cenário, é preciso fortalecer a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, mudando práticas de manejo agrícola e incentivando o uso controlado do fogo”, aponta Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam.

A nota técnica recomenda ainda ações como a redução do desmatamento e a proteção de áreas nativas por meio da criação e expansão de áreas protegidas, como medidas para reduzir o fogo, que este ano mais que dobrou a área atingida no país.

O Ipam destaca também a implementação de incentivos financeiros para a proteção ambiental, remunerando boas práticas de comunidades e proprietários rurais, como medida para a diminuição de danos.

Vegetação

A vegetação mais atingida foi a formação savânica, com 4,04 milhões de hectares queimados (47% do total) entre janeiro e setembro de 2024. Em seguida, campos alagados (21,3%) e agropecuária (15,38%).

Embora a formação florestal tenha registrado a menor área queimada, seu aumento foi de 113% em relação à média dos últimos cinco anos, o maior crescimento proporcional entre os tipos de vegetação. Os campos alagados tiveram o segundo maior aumento (53%), seguidos pela formação savânica (46%).

Quando se olha apenas para setembro deste ano, comparado a setembro do ano passado, o campo alagado é a vegetação com maior crescimento percentual, chegando a 421%. O efeito dos incêndios sobre áreas úmidas no período de seca é similar ao observado no Pantanal, onde a matéria orgânica de leitos secos de rios vira combustível para o fogo.

“As áreas úmidas do Cerrado e as formações florestais estão enfrentando um cenário alarmante. Ambas abrigam espécies que não possuem adaptações ao fogo, o que resulta em danos severos. Nas áreas úmidas, a grande quantidade de biomassa acumulada durante a seca aumenta a inflamabilidade, elevando também o risco de incêndios subterrâneos, que são difíceis de controlar. Nas formações florestais, o impacto é ainda maior, com alta mortalidade de espécies e maior dificuldade de recuperação”, comenta Vera Arruda, pesquisadora do Ipam.

Fonte: Um Só Planeta

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