Por Fátima Chuecco (da Redação)
Os brasileiros sabem pouco sobre os grandes primatas, salvo biólogos e ambientalistas com vivência em países africanos. Isso é natural porque não temos grandes primatas em nossas florestas. Temos muitas espécies de macacos, que são primatas com rabo e que, em matéria de evolução, ainda não atingiram o mesmo patamar que gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos – todos considerados antropoides ou grandes primatas (great apes), assim como os humanos.
Então, o mais forte argumento em defesa dos grandes primatas é o fato de terem uma sociedade e habilidades muito parecidas com as nossas. Grandes primatas operam com facilidade computadores, jogam vídeo-game, aprendem a linguagem dos sinais, se reconhecem no espelho e possuem estratégias políticas para obter posição de poder em seus grupos. A gestação é de nove meses e as “crianças” também ficam aos cuidados das mães até a pré-adolescência.
Todas as espécies animais são inteligentes e muitas delas se comunicam conosco, mas os grandes primatas estão à frente de todas, perdendo, em parte, apenas para o próprio homem. Por isso, a “briga” pelos direitos dos grandes primatas passa pela questão (muito polêmica) de eles serem reconhecidos como pessoas, apenas vivendo um momento evolutivo diferente do homem. É um tanto diferente da briga que se tem na defesa dos direitos de outros animais, mais focada no direito à própria vida: o direito de não serem usados como alimento, na vestimenta e em esportes sádicos.
Dois bebês que crescem juntos, um humano e outro chimpanzé, desenvolverão as mesmas habilidades se tiverem acesso aos mesmos ensinamentos. Comerão com garfo e faca, aprenderão a usar o banheiro e ficarão viciados em jogos de computador. A única diferença é que um tem cordas vocais que permitem a fala e o outro, apesar de entender tudo o que ouve, só poderá se expressar por meio da linguagem dos sinais, como um humano mudo.
Mesmo para vegetarianos e vegans costuma ser difícil assimilar essa diferença entre a defesa dos direitos dos grandes primatas e das demais espécies animais. O filósofo australiano Peter Singer já dizia, desde o início de sua trajetória, que é preciso libertar os grandes primatas da escravidão do mesmo jeito que um dia índios e negros foram libertados. No passado, índios e negros sofreram abusos porque também foram considerados “animais” inferiores aos homens brancos. E até hoje essa questão ainda não está bem resolvida.
O preço da semelhança
Por serem muito parecidos conosco, com diferença mínima de DNA, chimpanzés passam anos em laboratórios de pesquisa, sendo submetidos a todo tipo de droga medicinal. São contaminados por vírus que atacam os humanos a fim de se testar a reação deles aos tratamentos. Geralmente perde-se muito tempo e dinheiro nessas pesquisas porque o estado emocional das “cobaias” interfere bastante na resposta aos medicamentos. É como a gente: se estamos infelizes é mais difícil a recuperação de uma doença. Então imagine passar a vida em jaulas, sem acesso a outros indivíduos do mesmo grupo, sol, liberdade… vida. O sangue desses pobres chimpanzés está inundado de toxinas devido à vida miserável que levam e, por isso, é um grande desperdício de tempo (e de vidas) esperar respostas positivas desses novos tratamentos. A apatia neutraliza qualquer droga de última geração.
Claro que outros animais são usados na vivissecção… O hamster, então, nem se fala. Nenhuma criatura merece isso. Já existem métodos mais modernos e eficientes para se pesquisar a cura de doenças e cada vez mais caminhamos para uma medicina personalizada, baseada no DNA de cada pessoa, nos seus pontos fortes e frágeis. Lá na frente… onde talvez a nossa mente ainda não alcance, os cientistas não ficarão perdendo anos de estudo e sono testando drogas em animais indefesos. Soluções muito mais rápidas virão via mapeamento celular. Mas, como dito antes, a defesa dos grandes primatas tem um argumento diferente porque eles são e vivem como nós… pessoas. Acesse, aqui, o link para ver o slide com grandes primatas em diversas situações “humanas”.