O Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, uma das áreas mais protegidas e emblemáticas dos Estados Unidos, está novamente sob ameaça. A administração do presidente Donald Trump se prepara para autorizar concessões de petróleo e gás em sua planície costeira, uma região protegida há mais de 40 anos, em mais uma medida que prioriza interesses econômicos em detrimento da vida animal e do equilíbrio ecológico.
De acordo com documentos obtidos pela POLITICO, o Departamento do Interior deve anunciar nas próximas semanas a liberação da exploração de combustíveis fósseis nos 1,56 milhão de acres de tundra que compõem a costa norte do Alasca. A decisão também deve restabelecer sete licenças de perfuração concedidas ao estado do Alasca no fim do primeiro mandato de Trump, posteriormente revogadas pelo governo Biden.
Ambientalistas e defensores dos direitos animais consideram o movimento um grave retrocesso. O Refúgio do Ártico abriga populações de ursos-polares, caribus, lobos e centenas de espécies de aves migratórias, muitas das quais já enfrentam ameaças crescentes devido às mudanças climáticas. A abertura da região à indústria petrolífera pode resultar em impactos irreversíveis sobre habitats essenciais, ruídos, vazamentos tóxicos e a fragmentação de áreas críticas para a reprodução e alimentação dos animais.
Paralelamente, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem (FWS) foi orientado a manter a caça ativa em diversos refúgios, mesmo durante o fechamento parcial do governo. Enquanto milhares de funcionários públicos foram dispensados sem remuneração e atividades educativas, recreativas e de proteção foram suspensas, a caça segue liberada, uma decisão que, segundo especialistas, expõe a contradição e a falta de prioridades éticas da administração.
“Por que é justo manter o programa de caça, mas suspender caminhadas de observação de aves e projetos de educação ambiental?”, questionou Desirée Sorenson-Groves, presidente da National Wildlife Refuge Association. Ela alertou que, com equipes reduzidas em até 30% nos últimos anos, muitos refúgios já operam em condições críticas, o que pode facilitar a caça amadora e danos ambientais sem fiscalização adequada.
A manutenção da caça durante o fechamento, com parte dos trabalhadores atuando sem pagamento para abrir portões a caçadores, mostra o viés pró-caça e pró-exploração da gestão Trump. Enquanto parques nacionais permanecem fechados ao público e atividades de proteção são interrompidas, os refúgios, criados justamente para proteger a vida selvagem, são tratados como arenas de lucro e lazer violento.
ONGs como a Defenders of Wildlife denunciam que mais da metade dos refúgios já não conta com funcionários permanentes, o que agrava o abandono das áreas e ameaça diretamente as populações de animais selvagens. “O refúgio foi simplesmente dizimado”, lamentou Sorenson-Groves.
A insistência de Trump em transformar áreas de proteção em campos de exploração e caça expõe uma visão ultrapassada, que ignora a urgência climática e o valor intrínseco da vida animal. Permitir que perfurações de petróleo avancem sobre o Ártico é mais do que um erro político, é uma agressão deliberada contra o planeta e contra todas as formas de vida que dependem desses ecossistemas intactos para sobreviver.
Em um momento em que a humanidade enfrenta a perda acelerada da biodiversidade global, o retrocesso promovido pelo governo Trump coloca em risco décadas de avanços na proteção da fauna e das terras públicas americanas. O Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico não pertence a um governo, pertence à natureza, aos animais e às futuras gerações que ainda têm o direito de conhecê-lo vivo.