Em um cenário desanimador e que expõe as falhas do sistema em relação aos direitos animais, o Ministério da Diversidade Ecológica da França rejeitou a proposta do Projeto Santuário de Baleias (Whale Sanctuary Project) para realocar Wikie e Keijo, as duas últimas orcas mantidas em cativeiro no Marineland Antibes, para um santuário marinho na Nova Escócia, Canadá. Essa decisão não apenas ignora o bem-estar desses animais, mas também reforça a exploração contínua de seres sencientes em nome do entretenimento humano.
Em uma carta datada de 16 de janeiro de 2025, a Diretora de Água e Biodiversidade do Ministério, Madame Célia de Lavergne, justificou a decisão com base em uma revisão feita por um painel de especialistas científicos. No entanto, o painel sequer se deu ao trabalho de entrar em contato com o Projeto Santuário de Baleias para discutir preocupações ou esclarecer dúvidas.
Essa falta de diálogo transparente e direto é um exemplo claro de como as vozes que defendem os direitos animais são sistematicamente ignoradas em processos decisórios que impactam diretamente a vida de seres vivos.
O Projeto Santuário de Baleias havia elaborado um plano detalhado, que incluía a avaliação da saúde física, mental e emocional de Wikie e Keijo por veterinários independentes, além de garantir a construção do santuário e a captação de recursos necessários. A proposta também previa a integração dos cuidadores atuais do Marineland, oferecendo a eles a oportunidade de continuar cuidando das orcas em um ambiente natural e ético. No entanto, o Ministério levou nove meses para responder, e, quando o fez, a oportunidade de realocação já havia sido perdida devido ao encerramento das operações do Marineland em 5 de janeiro de 2025.
A justificativa do Ministério para a rejeição foi baseada em “restrições de cronograma”, uma explicação vaga e insuficiente diante da gravidade da situação. Em vez de priorizar o bem-estar de Wikie e Keijo, o governo francês optou por uma solução que perpetua o ciclo de exploração: a transferência das orcas para o Loro Parque, um zoológico nas Ilhas Canárias, Espanha, conhecido por suas práticas questionáveis de bem-estar animal, falta de transparência e histórico de más condições para os animais sob seus cuidados.
É revoltante que, em pleno 2025, ainda existam instituições que tratam animais como mercadorias, transferindo-os de um local de exploração para outro, sem qualquer consideração por suas necessidades físicas e emocionais. O fato de o governo francês não poder impedir a transferência para outro país da UE, mas poder bloquear o envio para o Japão, revela uma falha grave na legislação que protege os direitos animais. Isso demonstra como as leis atuais ainda são insuficientes para garantir uma vida digna a seres que sofrem há décadas em cativeiro.
O Projeto Santuário de Baleias, em um último esforço para garantir um futuro digno para Wikie e Keijo, propôs uma reunião com o Marineland e o Loro Parque, oferecendo-se até para arcar com os custos de manter as orcas no Marineland enquanto o santuário era finalizado. No entanto, essa proposta foi rejeitada, mostrando que, para essas instituições, o lucro e a exploração continuam a falar mais alto do que o bem-estar animal.
A decisão de enviar Wikie e Keijo para o Loro Parque é um retrocesso inaceitável. Esse aquário tem um histórico sombrio, com relatos de más condições de vida, práticas reprodutivas irresponsáveis e falta de transparência em relação ao tratamento dos animais. Transferir essas orcas para lá é condená-las a uma vida de sofrimento contínuo, longe de qualquer possibilidade de experimentar um ambiente natural e compassivo.
O caso de Wikie e Keijo é um exemplo gritante de como os direitos animais são negligenciados em favor de interesses econômicos e de entretenimento. Essas orcas passaram a vida inteira confinadas em tanques minúsculos, privadas de liberdade e submetidas a condições que causam estresse psicológico e físico.
Elas merecem mais do que ser tratadas como atrações turísticas ou objetos de lucro. Merecem a chance de viver seus anos restantes em um santuário marinho, onde possam experimentar algo próximo à liberdade e receber o cuidado e respeito que lhes foram negados por tanto tempo.
O Projeto Santuário de Baleias continua lutando por uma solução ética e justa, pedindo ao governo francês que reconsidere sua decisão e priorize o bem-estar desses animais. No entanto, esse caso serve como um alerta para a necessidade urgente de mudanças legislativas e culturais que coloquem os direitos animais acima dos interesses humanos.
Enquanto instituições como o Marineland e o Loro Parque continuarem a existir, e enquanto governos falharem em proteger os animais, histórias como a de Wikie e Keijo continuarão a ser um símbolo triste e desnecessário de nossa falha coletiva em respeitar a vida e a dignidade dos animais.