Existem centenas de operações de caça enlatada, também chamadas como fazendas de caça, nos Estados Unidos – principalmente no Texas e na Flórida – que querem lucrar com a morte dos animais. Essas instalações mantêm grupos de animais com o único propósito de vender a chance de matá-los para potenciais clientes.
O custo depende do animal que será morto. Alguns dos proprietários desses locais podem surpreender e incluem bilionários como Ted Turner, o fundador da CNN. As fazendas de Turner oferecem “oportunidades especiais” para matar cervos, bisões e outras espécies.
Os animais mais caros e os mais lucrativos são os chamados “exóticos” – espécies não indígenas que são importadas e criadas simplesmente para serem assassinadas. As mortes de alguns animais podem resultar em “prêmios” de dezenas de milhares de dólares cada uma porque são espécies ameaçadas de extinção.
É ilógico que os EUA tenham leis especificamente para proteger espécies classificadas como em perigo e ameaçadas, mas, caso alguém esteja disposto a pagar o preço, pode matar uma delas, segundo informa o Alternet.
Como muitos desses “alvos lucrativos”, o cervo de Eld corre risco de extinção. A espécie é nativa do Sudeste Asiático e já é considerada possivelmente extinta em muitos países nativos. Há menos de 2400 indivíduos da espécie na natureza. Seu estado quase extinto foi em grande parte provocado por seres humanos: o cervo de Eld é um dos animais mais valorizados pela caça de “troféus” porque possuem chifres impressionantes e há uma demanda por suas peles nos mercados do Sudeste Asiático.
Apesar de quase não restarem cervos de Eld na natureza, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos – a agência que supervisiona a Lei de Espécies Ameaçadas – ainda autoriza as fazendas de caça a lucrarem com a morte desses animais majestosos.
Matar esses animais não beneficia em nada a espécie e apenas gera lucro para os proprietários das fazendas. Porém, a agência alega que esta prática terrível de alguma forma se qualifica para a aprovação sob a Lei de Espécies Ameaçadas de Extinção, porque “aumenta [a] propagação ou sobrevivência” das espécies ameaçadas de extinção.
Que distorção perversa de lógica justifica a matança de animais como algo que “melhora” a sobrevivência de suas espécies? É uma política informal e extremamente imprópria do órgão, conhecida como “pague para jogar”. Nesse regime de pagamento, certas autoridades da agência aprovam as licenças de caça se o requerente fizer pagamentos financeiros para programas de proteção em geral.
Algumas fazendas de caça afirmaram em suas licenças que irão doar cerca de 10% de algumas das “recompensas” cobradas por cada assassinato a grupos de proteção alegando que isso irá alguma forma aumentar a sobrevivência global das espécies mortas. Porém, não somente não existe um vínculo direto entre as espécies de animais mortos e essas doações, como o beneficiário delas é muitas vezes um grupo pró-caça que simplesmente se esconde atrás de um rótulo de “proteção”.
Por exemplo, um destinatário popular é o Conservation Force, que tem um site que diz que sua missão é expandir a caça e fala de seu sucesso em conseguir licenças para a importação de “troféus” de caça de elefantes, leopardos, rinocerontes negros e até ursos polares. Ao invés de conseguir uma proteção real, o Conservation Force visa apenas expandir o número de vítimas possíveis para seus membros matarem.
O Animal Legal Defense Fund criou uma campanha contra as operações de caça enlatada, exigindo que as autorizações sejam negadas porque estão relacionadas a empresas comerciais inconsistentes e, de fato, violam o estipulado pela Lei de Espécies Ameaçadas.
Como a organização já demonstrou, o esquema de “pagar para jogar” da agência é impróprio e não deve ser usado para permitir que essas operações continuem lucrando com a morte de animais, já que o Serviço de Pesca e Vida Selvagem é responsável por proteger a Lei de Espécies Ameaçadas.
O público também pode agir. Qualquer pessoa pode comentar sobre os pedidos de licenças apresentados pelas operações de caça enlatada. Um acompanhamento disso está disponível no site do Animal Legal Defence Fund. Ao expressarem sua revolta, as pessoas aumentam a pressão sobre a agência para efetivamente aplicar a legislação.
As leis também podem ser aprimoradas. Em 2001, foi apresentado um projeto de lei de proteção de animais “exóticos” cativos que tornaria ilegal “permitir a morte ou ferimento de um animal [exótico] para o entretenimento ou o recolhimento de um troféu”.
A lei não foi sancionada, mas uma indignação pública referente à caça poderia resultar em sua promulgação.