A decisão do governo de São Paulo de realizar um pregão público para contratar serviços de captura e extermínio de javalis e javaporcos nas unidades de conservação do estado é mais uma demonstração do quanto práticas arcaicas, como a caça, continuam sendo priorizadas em detrimento de soluções éticas é sustentável. Esses animais, considerados exóticos e classificados como “nocivos” em trabalhos e ecossistemas, são alvo de uma política que coloca em xeque os direitos animais e ignora alternativas mais compassivas.
Segundo o edital, até 380 animais poderão ser mortos em locais como o Parque Estadual de Ilhabela e diversas Estações Ecológicas. O extermínio, realizado após captura com armadilhas, é justificado como “necessário para conter os impactos ambientais e agrícolas causados pelos animais”. Contudo, tais métodos, ainda que descritos como “livres de sofrimentos prejudiciais”, perpetuam a exploração e objetificação desses indivíduos sencientes.
A abordagem atual reflete a visão limitada de que o controle de trânsito de animais deve ser resolvido por meio da morte, uma prática que já se mostrou ineficaz a longo prazo. Estudos indicam que a caça pode, paradoxalmente, estimular a reprodução de espécies ao criar desequilíbrios no ecossistema. Além disso, a violência existente à caça armada tem um histórico de acidentes graves, com registros de ferimentos e mortes humanas.
A utilização de armadilhas e abates apenas desloca o problema sem resolver sua raiz. O próprio edital registra a dificuldade em diferenciar javalis e javaporcos de espécies nativas, como catetos e queixadas, o que aumenta o risco de mortes injustificadas de animais silvestres protegidos.
Uma gestão ética da fauna exige soluções inovadoras e não-violentas. Métodos como esterilização, uso de contraceptivos e monitoramento contínuo são alternativas viáveis e já utilizadas com sucesso em outros contextos. Essas práticas, além de humanitárias, evitam os impactos negativos da caça, como o sofrimento animal e os riscos à segurança humana.
É fundamental também investir em programas de educação ambiental que conscientizem a população sobre o impacto da introdução de espécies exóticas e sobre formas de convivência harmoniosa com os animais. Ao invés de tratar esses seres como “pragas” também, é necessário compreendê-los como vítimas de um desequilíbrio ambiental causado, em grande parte, pela ação humana.
A prática de contratar empresas para capturar e matar animais reforça a ideia de que vidas não humanas são bens nacionais, um pensamento incompatível com a ética moderna e os princípios de conservação ecológica. É hora de exigir políticas públicas que promovam o respeito e a compaixão pelos animais, priorizando soluções que não perpetuem a violência contra seres sencientes.
Somente com uma abordagem verdadeiramente ética e sustentável será possível lidar com questões como a superpopulação de espécies exóticas sem trair os princípios de conservação ambiental e respeito aos direitos animais.