Um projeto de emendas à Lei de Proteção Animal, que inclui permissões para a eutanásia de cães em situação de rua, foi submetido ao Parlamento na Turquia. O governo turco parece determinado a implementar a lei que pretende capturar os estimados 4 milhões de cachorros que vivem nas ruas do país e matar aqueles que não forem adotados dentro de 30 dias – provavelmente a grande maioria.
Na Turquia, os animais em situação de rua são aceitos e muito bem cuidados pela população. Em texto escrito para o The Guardian, o jornalista Alexander Christie-Miller relatou que durante o tempo vivido no país se surpreendeu inúmeras vezes com a preocupação dos moradores em relação aos cães e gatos.
Ele relata que os moradores os alimentavam e alguns até se juntavam para pagar as contas veterinárias dos cães quando estavam doentes ou feridos. Quando foi pela primeira vez a uma loja de produtos para animais para comprar petiscos, ele tentou explicar com um turco iniciante que eram para cachorros, mas não os dele, e o dono da loja respondeu: “Ah, para os cães de rua”, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
E essa simpatia é histórica. Durante o Império Otomano, a solicitude dos turcos pelos animais que compartilhavam seu espaço urbano foi destacada nos relatos de quase todos os visitantes europeus ao país. Mas à medida que o império declinava diante das potências europeias rivais, estrangeiros e reformistas otomanos começaram a ver os cães como símbolos de um atraso mais amplo.
Atualmente, a Turquia é talvez o único país do mundo onde animais têm o direito legal de habitar as ruas, graças a uma lei de 2004 aprovada por Recep Tayyip Erdoğan, que hoje em dia é presidente do país. Essa lei protege uma população de animais em situação de rua socializados.
Mas nos últimos tempos, há relatos de funcionários do governo que batem em cães até que eles desmaiem e os enterram vivos, os espancam até a morte com pás ou os estrangulam com as próprias mãos. “Enfrentamos um problema de cães de rua que não existe em nenhum país desenvolvido”, disse Erdoğan, contradizendo a lei que ele mesmo aprovou.
Atuação dos ativistas
Desde o início de junho, ONGs e ativistas estão se manifestando incansavelmente contra o projeto de lei. A iniciativa Yasam İçin Yasa (Lei Pela Vida, em português) foi criada em 2021 para lutar pelos direitos animais e nas últimas semanas tem voltados todos os seus esforços para impedir que essa lei seja sancionada.
De acordo com a Yasam İçin Yasa, eles não serão capazes de proteger nem mesmo os direitos mais básicos à vida dos animais caso essa mudança na lei se confirme.
A ONG conta que um estudo realizado na Romênia, que tentou acabar com os animais através da matança, mostrou que a população de animais só pode ser reduzida por meio da esterilização, destacando que a taxa de reprodução aumenta com o massacre.
Além de organizar manifestações quase que diariamente em diversas cidades da Turquia, a Yasam İçin Yasa criou um abaixo-assinado para demonstrar que o público discorda fortemente do projeto de lei. Acesse o link para apoiá-los nessa luta.