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RISCO DE EXTINÇÃO

Governo da Inglaterra continua emitindo licenças para pecuaristas matarem texugos, ignorando a recomendação de especialista

O consultor científico do governo declarou que "não há justificativa" para os abates e citou a vacinação como solução realmente eficaz

4 de junho de 2024
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Anney P | Alamy

O governo inglês emitiu licenças para matar texugos, apesar de seu próprio consultor científico dizer que “não há justificativa” para isso. Documentos vazados vistos pelo The Guardian mostram que o Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) emitiu este mês 17 novas licenças para continuar o abate de texugos, rejeitando a recomendação do Dr. Peter Brotherton, diretor de ciências da Natural England, consultor do governo sobre o meio ambiente na Inglaterra.

Texugos estão sendo mortos até a extinção na Inglaterra porque transmitem tuberculose bovina para os bois, doença pode dizimar rebanhos inteiros. No ano passado, números divulgados pelo Defra revelaram que mais de 210 mil texugos foram mortos desde quando os abates começaram em 2013.

No entanto, relatórios científicos mostraram que matar texugos não é a maneira certa de erradicar a doença. Brotherton disse ao Defra que “com base nas evidências, não consigo encontrar justificativa para autorizar mais abates de texugos em 2024 com o objetivo de evitar a propagação da doença e recomendo que isso não seja feito”.

Funcionários do Defra disseram que, em resposta, estavam seguindo em frente com a matança porque os agricultores mais afetados pela tuberculose bovina perderiam a confiança no governo se ela fosse interrompida abruptamente.

Brotherton disse que a população de texugos provavelmente permanecerá baixa por pelo menos sete anos, durante os quais as vacinações poderiam ser utilizadas para deter a propagação da doença. “O equilíbrio das evidências mudou. Na minha opinião, agora está claro que a vacinação de texugos pode ser uma alternativa muito mais eficaz”, disse ele ao Defra.

Tom Langton, ecologista e especialista em texugos que há muito tempo coleta dados para apoiar o fim da matança, defende que a matança pare de uma vez por todas. “Todas as matanças de texugos devem parar imediatamente até que o caos de fundos públicos desperdiçados e métodos cruéis de matança de texugos sejam devidamente investigados”, declarou.

Ele acrescentou que os documentos vazados evidenciam a necessidade de uma reinicialização e revisão criteriosa dos testes de tuberculose bovina e controle de movimentação dos bois nos próximos meses, com um olhar novo sobre as questões.

Peter Hambly, diretor executivo da ONG Badger Trust, também disse que o Defra deve seguir o conselho científico e interromper imediatamente a matança de texugos. “A Badger Trust só consegue ver uma razão para essa decisão [emissão das licenças de abate]: isso perturbaria a indústria agrícola se eles não abatessem texugos. Isso parece apontar para uma decisão politicamente baseada em vez de científica, contradizendo os princípios de tomadas de decisão baseadas em evidências”, acrescentou.

O Partido Trabalhista da Inglaterra afirmou anteriormente que encerraria o abate de texugos se vencesse as eleições. “A revisão Godfray de 2018, o último trabalho feito pelo governo, concluiu que o abate de texugos não é a solução. Vamos tornar a Inglaterra livre de tuberculose bovina até 2038, mas com uma série de medidas que não incluem a morte dos texugos”, disse Daniel Zeichner, Ministro Sombra da Agricultura, no ano passado.

Embora o ex-secretário do Defra, George Eustice, tenha prometido eliminar gradualmente a matança até 2025, o governo voltou atrás nisso no ano passado, chamando-o de “prazo artificial” e comprometendo-se a “continuar a abater”.

Nota da redação: Os texugos são uma espécie de mamíferos onívoros, que gostam de viver em áreas bem heterogêneas, como florestas, matagais e terrenos agrícolas, que lhes proporcionam uma maior disponibilidade de recursos e abrigos. Costumam ser animais solitários.

Eles desempenham um papel fundamental na ecologia e no equilíbrio dos ecossistemas, pois são escavadores proficientes e contribuem para a aerificação do solo, promovendo o crescimento de plantas saudáveis, além de propagar diversas espécies de plantas por meio de suas fezes. A presença de texugos em um ambiente é um ótimo sinal, pois esses animais são sensíveis a mudanças na qualidade do solo e na disponibilidade de alimentos.

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