A presença de cisnes em lagos e canais urbanos e rurais da Califórnia, nos Estados Unidos, antes vista como símbolo de beleza e encantamento, tornou-se alvo de uma disputa que opõe biólogos, autoridades ambientais e defensores dos direitos animais. A cidade aprovou recentemente uma norma que autoriza caçadores, proprietários de terras e seus inquilinos a matar as aves sem necessidade de licença, sob o argumento de que sua presença ameaça habitats e espécies locais.
A espécie foi introduzida nos Estados Unidos há décadas para ser explorada com fins ornamentais, em zoológicos e jardins privados. Com o tempo, porém, os animais passaram a ocupar corpos d’água naturais, adaptando-se rapidamente. Segundo autoridades, o crescimento populacional tem gerado impactos significativos.
“Os números proliferaram, e eles tendem a infringir bastante dano nas áreas aquáticas”, disse Peter Tira, do Department of Fish and Wildlife, em entrevista ao The Guardian. Ele afirma que a Califórnia já perdeu entre 90% e 95% de seus ecossistemas aquáticos originais, e que a ocupação dos cisnes estaria acelerando esse processo.
Especialistas em ecologia reconhecem que os animais exercem grande influência sobre os ambientes que habitam. A ornitóloga Margaret Rubega, da Universidade de Connecticut, explica que os cisnes consomem vegetação submersa arrancando raízes, o que pode reduzir a biodiversidade local. Também possuem comportamento territorial, afastando outras aves durante o período reprodutivo.
Ainda assim, a decisão de matar os cisnes ignora que a presença dos cisnes decorre de decisões humanas. Foi o próprio Estado e seus agentes privados que introduziram essas aves, deslocando-os de seus contextos naturais. Agora, diante de um desequilíbrio causado pela ação humana, a resposta recai novamente sobre os próprios animais.
A ONG norte-americana Friends of Animals classificou a norma como “desumana”. Em comunicado, afirmou tratar-se de “uma tentativa desesperada de uma indústria da caça em declínio de adicionar outro ‘pássaro para o saco’”. O grupo prometeu mobilização jurídica e social contra a decisão.
Na lógica dos humanos quando espécies beneficiadas ou introduzidas pela ação humana passam a interferir no ambiente, a solução adotada costuma ser o extermínio, e não políticas de manejo ético, reabilitação, monitoramento ou adaptação de habitats. A vida dos animais é sempre tratada como variável descartável em uma equação de controle ambiental.