Por Fátima Chuecco (da Redação)
Um episódio raro da natureza foi documentado recentemente pelo cinegrafista da ONG Gorilla.CD, da República Democrática do Congo. Dois silverbacks – os famosos gorilas-das-montanhas de dorso prateado que, geralmente, são líderes naturais devido ao seu tamanho e força – foram flagrados tentando estabelecer um convívio amigável nas florestas do Parque Nacional de Virunga – seu habitat natural recentemente invadido pelo exército rebelde. Veja no vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=QI7B92_FQiI&feature=channel_page
É bastante difícil duas famílias de gorilas se cruzarem na floresta porque a “etiqueta” da selva manda que os grupos se desenvolvam em áreas distantes para que todos tenham condições de alimento e sobrevivência. E como os gorilas não se reproduzem com membros da família, a distância também é necessária para que, uma vez independentes, os jovens possam migrar para outros grupos.
Mas, devido ao pouco espaço habitável que deve ter sobrado aos gorilas-das-montanhas no Parque de Virunga (boa parte foi tomada por agricultores e outra invadida por rebeldes armados), duas famílias acabaram se cruzando e foram flagradas caminhando “juntas” na floresta. Os guardas se surpreendem com a visão. Eles notam primeiro um silverback e, logo depois, outro, de outra família. Há no vídeo um momento de tensão, com os dois silverbacks, Humba e Kabirizi, demonstrando força ao quebrar galhos e bater no peito.
É esse, inclusive, o típico comportamento dos gorilas que os condena à extinção. Um gorila só ataca o inimigo em último caso. Primeiro ele quebra galhos, urra e bate no próprio peito para afugentar o inimigo. Somente se essa tática não funcionar é que ele parte para o confronto físico. Isso pode funcionar com vários animais da floresta, mas não com o homem, que já invade sua região armado até os dentes.
Humba e Kabirizi, numa situação mais normal, se enfrentariam e o vencedor ficaria com as fêmeas mais jovens, ampliando seu grupo. Conflitos desse gênero podem acarretar grandes prejuízos para a espécie, pois, muitas vezes bebês são separados de suas mães e não sobrevivem. Mas os dois silverbacks do Congo, já conhecidos dos guardas florestais, investiram numa espécie de “entendimento”. Provaram um ao outro seu poder, mas sem agressões físicas. Não repartiram as famílias e estão atravessando a floresta juntos.
Isso pode ter um valor científico incalculável. Pode significar toda uma mudança de comportamento que tem sido mantido há milênios de anos. É como se soubessem que a coisa já está feia demais para o lado deles e resolvessem manter a paz entre os grupos. E um grupo mais numeroso também pode oferecer uma resistência maior aos inimigos, como caçadores. Se durante um ataque de caçadores um dos líderes sobreviver, ele poderá sozinho continuar conduzindo os membros que sobrarem das duas famílias.
Curiosidade
Tanto no Congo quanto em Ruanda, as famílias de gorilas são compostas por 20 a 35 membros e recebem o nome de seu líder. Além disso, cada um dos membros recebe também um primeiro nome e é identificado pelo formato do nariz. Cada gorila tem um nariz diferente. Nunca há dois iguais. Para nós, que não os conhecemos de perto, isso pode parecer absurdo, mas a verdade é que cada um deles tem um nariz de formato diferente que é desenhado pelos guardas florestais para futuras identificações.