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SEM HABITAT

Golias em apuros: um dos maiores insetos do mundo pode ser extinto pelo desmatamento ligado à indústria do cacau

6 de março de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Getty Images

Um dos maiores insetos do mundo está em perigo. Segundo um estudo conduzido pelo ecologista Luca Luiselli, da Universidade Estadual de Rivers, da Nigéria, duas espécies do besouro Golias, do gênero Goliathus, encontrado nas florestas tropicais da África Ocidental (Serra Leoa, Libéria, Guiné, Costa do Marfim, Gana, Burkina Faso, Benin, Nigéria, Camarões, República Democrática do Congo, Uganda e Sudão do Sul), estão à beira da extinção devido ao desmatamento provocado pela indústria do cacau e, também, ao contrabando internacional de insetos secos.

Em artigo publicado no The Conversartion, o especialista destacou que existem cinco espécies do Golias, que podem chegar a 11 centímetros de comprimento. Suas larvas, por serem onívoras e provavelmente se alimentarem de carne e restos de plantas, têm um papel importante na movimentação de nutrientes por todo o ecossistema florestal para nutrir outras plantas e animais.

“O besouro Golias é um excelente indicador da saúde da floresta: se eles são abundantes em uma floresta, significa que ela está em condições boas o suficiente para sustentar outras espécies. Mas quando suas populações diminuem, isso é um indicador de alerta precoce de esvaziamento de florestas e erosão de ecossistemas”, escreveu Luiselli.

O trabalho que ele e sua equipe realizaram descobriu que as espécies Goliathus regius Klug e Goliathus cacicus Olivier estão seriamente comprometidas. A primeira, de até 9,5 cm de comprimento, vive apenas em florestas tropicais maduras. A segunda, que pode chegar a 10,5 cm, vive em florestas mais secas.

“Estimamos que cerca de 80% da população de Goliathus cacicus foi dizimada na Costa do Marfim se considerarmos a quantidade de floresta destruída para o cultivo de cacau. Goliathus regius perdeu similarmente cerca de 40% de seu habitat”, pontua o ecologista Luca Luiselli, da Universidade Estadual de Rivers, da Nigéria.

Pelas descobertas, o Goliathus cacicus teve um declínio catastrófico nos últimos 30 anos. Essa espécie teve milhares de unidades capturadas e vendidas no mercado internacional de insetos secos.

“Estimamos isso com base nos cálculos de colecionadores especialistas que monitoram o comércio de insetos há décadas. Hoje em dia, a maior parte desse comércio acontece online no eBay, Facebook e outras plataformas”, afirmou Luiselli. “Outras espécies intimamente relacionadas, como Goliathus goliatus, ainda são vendidas às centenas no mercado de insetos secos, principalmente no sudoeste de Camarões e, em menor extensão, no Quênia e Uganda. Nossas observações do comércio online mostram que eles são exportados de lá para mercados ocidentais.”

Em relação ao goliatus, a situação não é pior porque há grandes partes da África onde os besouros são protegidos. Por exemplo, florestas na Nigéria, Camarões, Uganda, Sudão do Sul, Ruanda e Quênia oferecem abrigo valioso para essa espécie. Além disso, Gabão, o norte da República do Congo e o norte da República Democrática do Congo têm florestas vastas e em grande parte intocadas.

Como salvar o Golias

Para salvar o Goliar, o ecologista destaca que é imperativo proteger seu habitat natural – os restos das florestas na Costa do Marfim e na Libéria, onde eles viveram. Atenção especial deve ser dada à proteção das árvores onde esses besouros tendem a se concentrar quando adultos.

“Recomendamos que os anciãos da comunidade sejam consultados e envolvidos para identificar as árvores-alvo e protegê-las cuidadosamente”, ele acrescentou. “Mesmo as espécies que não estão em perigo agora precisam de florestas úmidas se quiserem sobreviver. Mas elas estão enfrentando ameaças crescentes devido ao desmatamento, conversão de terras, mineração e mudanças climáticas.”

Outras medidas que devem ser tomadas, de acordo com o especialista, é não fazer criação em cativeiro e promover campanhas de conscientização em comunidades locais para encorajar as pessoas a proteger os besouros.

“Por exemplo, seria muito importante criar ‘florestas certificadas’ onde as comunidades locais pudessem colher e vender um número limitado de besouros para ganhar a vida, ao mesmo tempo em que ajudavam a conservar a floresta e geravam renda do ecoturismo do besouro Golias”, indicou Luiselli.

E ele completou: “Um passo importante seria que cientistas, agências governamentais e organizações sem fins lucrativos na África Ocidental concordassem com um plano de ação para conservar os besouros Golias, e especialmente Goliathus cacicus. Isso ajudará os países a coordenar o planejamento de conservação para essas espécies”.

Fonte: Um Só Planeta

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