Os golfinhos, conhecidos por sua inteligência e comportamentos sociais complexos, têm um hábito intrigante que vem chamando a atenção de cientistas: a interação deliberada com o baiacu, um peixe que libera toxinas poderosas. Observações recentes sugerem que esses mamíferos marinhos podem estar usando a substância para experimentar seus efeitos, seja por diversão ou por uma busca intencional por sensações alteradas.
Em águas australianas, pesquisadores flagraram golfinhos jovens manuseando cuidadosamente baiacus com a boca, passando-os entre si como se estivessem compartilhando algo valioso. O que torna esse comportamento peculiar é que o baiacu produz tetrodoxina, uma neurotoxina capaz de paralisar e até matar predadores. No entanto, em doses mínimas, ela pode causar efeitos entorpecentes.
Cientistas acreditam que, ao mordiscar suavemente o peixe, os golfinhos induzem a liberação controlada da toxina, entrando em um estado de relaxamento profundo ou euforia. Alguns descrevem suas reações como “hipnotizadas”, com os animais flutuando lentamente perto da superfície, aparentemente absortos na experiência.
Ainda não há consenso sobre o motivo exato desse comportamento. Alguns pesquisadores, como Krista Nicholson, da Universidade de Murdoch, sugerem que pode ser apenas uma forma de brincadeira, semelhante a quando os golfinhos brincam com algas ou objetos. Outros, porém, defendem que há uma busca ativa pelos efeitos da toxina, já que o comportamento é repetido e meticuloso.
“Eles não estavam caçando, mas sim interagindo com o baiacu de maneira gentil, como se soubessem exatamente o que estavam fazendo”, descreveu Rob Pilley, zoólogo e produtor do documentário Dolphins – Spy in the Pod.
Seja por curiosidade, socialização ou busca de prazer, o fato é que esse comportamento reforça a complexidade cognitiva e emocional dos golfinhos. Eles não apenas reconhecem o risco da toxina, mas parecem dosá-la de forma estratégica, algo que exige um alto nível de percepção e aprendizado.
Enquanto a ciência ainda investiga os detalhes dessa prática, uma coisa é certa: os golfinhos continuam a nos surpreender, mostrando que o oceano ainda guarda muitos mistérios sobre a mente fascinante desses animais.