Após o fechamento para o público, golfinhos e leões-marinhos do antigo Aquarium de Mar del Plata são abandonados, com denúncias de fome e água contaminada, mostrando a falência de um modelo de negócios que explora a vida selvagem para entretenimento e a lentidão do poder público em garantir o bem-estar dos indivíduos remanescentes.
A denúncia formal apresentada pelo prefeito de Mar del Plata, na Argentina, Guillermo Montenegro, com base na Lei Nacional de Maus-Tratos Animais (nº 14.346), foi o estopim para uma série de reações. O chefe do Executivo municipal pediu à Justiça que investigue o abandono de golfinhos no complexo, que fechou em 31 de março, e solicita uma inspeção imediata e uma perícia técnica urgente para avaliar as reais condições dos animais.
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A situação é a face mais crua de um sistema intrinsicamente falido. O problema não começou com o fechamento, mas sim com a própria existência de tanques que confinam seres sencientes e de grande complexidade cognitiva, como os golfinhos-nariz-de-garrafa, para exibição pública.
Esses animais foram condenados a uma vida inteira de confinamento, privados de seus comportamentos naturais e de seu habitat. O abandono pós-fechamento é apenas o capítulo final de uma existência de aprisionamento.
O caso chegou oficialmente ao Conselho Deliberante, órgão legislativo municipal, onde dois pedidos de informações foram apresentados, refletindo a pressão pública por respostas.
O conselheiro Gustavo Pujato (UCR) direcionou seu requerimento ao governo provincial, exigindo que o Ministério de Ambiente e a Direção de Flora e Fauna adotem medidas urgentes para “regularizar a situação dos golfinhos e leões-marinhos”. O projeto pede detalhes sobre o estado atual dos animais e sobre os planos concretos para seu translado, reabilitação ou, onde for eticamente possível, reinserção.
Em paralelo, a conselheira Eva Ayala (Acción Marplatense) focou sua investigação no município, demandando um relatório detalhado de todas as inspeções realizadas no local nos últimos dois anos. O objetivo é apurar se a prefeitura, que possui a Ordenança 9702 especificamente para regular o funcionamento de instalações que abrigam mamíferos aquáticos, cumpriu seu papel fiscalizador e identificou irregularidades antes que a crise estourasse.
A esperança, agora, reside na pressão da Justiça e do Legislativo para que as soluções encontradas priorizem, de fato, os interesses dos indivíduos envolvidos, e não a conveniência econômica ou política dos humanos. A era do entretenimento à custa do sofrimento animal está com os dias contados, e seu legado são vidas em limbo que clamam por uma reparação que talvez nunca seja completa.