Em um cenário que mistura luxo, ostentação e crueldade, mais uma vida foi perdida pela ganância humana.
Um inocente golfinho, mantido covardemente em cativeiro no resort de luxo, Barceló Maya Beach, na Riviera Maya, no México, morreu após se forçado a saltar a uma grande altura e acabou atingindo a borda de uma piscina minúscula e claustrofóbica, durante um dos espetáculos degradantes administrado pela empresa Dolphinaris.
“O golfinho caiu com grande impacto porque foi ordenado a saltar tão alto e tão perto da borda. Acreditamos que, devido à gravidade da queda, o golfinho provavelmente morreu”, afirmou a ONG. “Não sabemos qual golfinho era este. Este incidente não pode ficar impune, e exigimos que a Profepa (Procuradoria Federal de Proteção ao Meio Ambiente) investigue a fundo o ocorrido.”
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A Dolphin Freedom Mx suspeita que o golfinho morto seja Kala, um indivíduo que desapareceu do tanque do hotel Barceló Riviera Maya. A ONG ainda denuncia práticas sombrias da indústria.
“Nos disseram que, quando um golfinho morre, a Dolphinaris simplesmente o substitui, trocando o microchip. Por isso, exigimos que a Profepa investigue a fundo essa acusação de que a indústria está trocando os microchips”, exigiu a organização. “Para isso, a Profepa precisa ter um registro da nadadeira dorsal de cada golfinho, junto com seu número de microchip, e verificar a identificação do golfinho de maneira profissional, não apenas aceitar a palavra do delfinário, que obviamente tem grande interesse em ocultar a verdade.”
O incidente, que poderia ser classificado como “acidente”, é, na verdade, o resultado de uma prática desumana e arcaica: a exploração de animais para entretenimento.
O resort, que se orgulha de oferecer “experiências exclusivas” aos hóspedes, mantém golfinhos e outros animais confinados em espaços inadequados, longe de seu habitat natural, apenas para servir como atração turística. Enquanto os clientes desfrutam de suítes luxuosas e jantares gourmet, os animais pagam o preço mais alto: a perda de sua liberdade e a própria vida.
O golfinho, um ser inteligente e sensível, conhecido por sua natureza sociável e curiosa, foi reduzido a um mero objeto de exibição. O salto que resultou em sua morte não foi um “acidente”, mas um ato de desespero.
Golfinhos em cativeiro exibem comportamentos estressantes e autodestrutivos, um claro sinal de que estão sofrendo em um ambiente que não atende às suas necessidades físicas e emocionais.
A morte do golfinho expõe a hipocrisia de um negócio que se vende como “luxuoso” e “exclusivo”, mas que esconde uma face sombria e cruel. Enquanto os donos do resort contam seus lucros, os animais sofrem sem voz, privados de tudo o que é natural e essencial para sua existência.
A morte desse golfinho não é um incidente isolado. Em 2019, três golfinhos morreram no mesmo local, vítimas do estresse crônico causado pelo confinamento e pela exploração incessante. Apesar disso, o hotel Barceló Riviera Maya e a Dolphinaris continuam a promover shows e nados com golfinhos, ignorando o sofrimento desses animais e a legislação que supostamente os protege.
A Norma Oficial Mexicana (NOM) 135-SEMARNAT-2004, que regula a proteção de animais marinhos aprisionados, parece ser pouco mais que um documento esquecido, enquanto a crueldade persiste.
A resposta da Profepa, que exigiu documentação do hotel e da Dolphinaris, é insuficiente diante da gravidade do caso. As ONGs de proteção animal do país exigem o fechamento imediato desses delfinários, que são verdadeiras prisões para seres que deveriam nadar livres nos oceanos.
Expectativa de vida dos golfinhos aprisionados
A estudante de Zoologia Grace Long, em parceria com a equipe do END CAPTIVITY da Whale and Dolphin Conservation (WDC) do Reino Unido, conduziu uma investigação sobre a longevidade de golfinhos em cativeiro, revelando dados alarmantes.
De acordo com o estudo, o tempo médio de sobrevivência desses cetáceos quando estão aprisionados, considerando aqueles que sobreviveram por mais de um ano, é de apenas 12 anos, 9 meses e 8 dias—muito inferior à expectativa de vida na natureza, que varia entre 30 e 50 anos.
Além disso, os golfinhos nascidos em cativeiro vivem, em média, apenas 9 anos e 22 dias, enquanto aqueles capturados do mar sobrevivem cerca de 14 anos, 9 meses e 20 dias.
A análise não separou os golfinhos que sofreram acidentes durante a exploração, como no caso de Kala.
É inaceitável que, em pleno século XXI, ainda existam estabelecimentos que explorem animais para entretenimento. A morte desse golfinho é um reflexo de um sistema que prioriza o lucro sobre o bem-estar dos seres vivos.
A sociedade precisa se indignar e exigir mudanças. Resorts e parques que exploram animais devem ser boicotados e fechados. É hora de repensar nosso conceito de “luxo” e “entretenimento”, e entender que nenhum momento de diversão vale a vida e o sofrimento de um animal.
Enquanto houver lugares que tratem seres vivos como mercadorias, histórias como essa continuarão a manchar nossa humanidade. O golfinho que morreu hoje não era uma atração, era um indivíduo, com direito à vida e à liberdade. Sua morte não pode ser em vão. Que ela sirva como um alerta para que possamos, finalmente, evoluir e deixar para trás práticas tão cruéis e desnecessárias.