No último fim de semana, o BioParque do Rio divulgou que seis das girafas compradas e trazidas para Mangaratiba, na Costa Verde do Rio de Janeiro, foram infectadas pelo parasita Haemonchus sp. Segundo nota, os animais receberam medicação como forma de tratamento, porém “um deles apresentou resistência ao medicamento” e morreu. A causa da morte ainda é investigada. O professor e doutor Luciano Antunes Barros, médico veterinário parasitologista da faculdade de veterinária da UFF, explica que a infecção ocorre através da ingestão de pasto que esteja infectado e que, por isso, pode acometer diversos animais.
“É um parasita de estômago. Nesses animais (o órgão) tem quatro setores, e ele fica no abomaso, uma dessas partes. O animal se infecta quando ingere larvas que estão no pasto. Isso pode acontecer em qualquer lugar. Por essa ingestão de pastagem, pode acometer bovinos, caprinos, búfalos, camelos e, inclusive, girafas”.
Animais infectados se tornam hospedeiros e podem contribuir para propagar os parasitas. Após a ingestão do pasto contaminado, novos ovos voltam à pastagem através das fezes. O acompanhamento constante do animal, incluindo análise das fezes, permite saber se ele está acometido pelo parasita e o nível de concentração. O médico veterinário destaca a velocidade do ciclo:
“É relativamente rápido, de 30 a 40 dias, desde que se infecte até que os ovos de novos indivíduos sejam expelidos nas fezes. Os ovos, dentro da família de parasitas, são muito parecidos. Para o diagnóstico, primeiro, se identifica através de exame de cultura, para que se transforme em lavas e então que se saiba quais serão. Com a cultura, depois de sete dias conseguimos dizer”.
Como a infecção pode atingir várias espécies, ao compartilharem um ambiente, os hospedeiros podem transmitir o parasita. O médico veterinário destaca que, quando estão num local amplo, as chances de se infectarem diminui. A rotatividade e ampliação da área são fundamentais.
“Numa situação de animais numa grande área de pasto, eles evitam fazer a alimentação onde defecaram. A girafa, por exemplo, é ainda mais difícil porque come folha na árvore, principalmente. Um animal que está mais baixo, junto ao solo, tem mais chance, como bois e cavalos. Nesse caso é indicado a troca de pastagem, de local”.
Já no corpo do animal, os efeitos são principalmente no estômago, como gastrite e úlcera. De acordo com o doutor, há poucos dados sobre como configurar uma alta taxa de infecção. Nos bois, um dos mais estudados, entre 1,5 mil e 3 mil ovos por grama de fezes ocorre a detecção e, ultrapassado esse valor, requer mais atenção.
Das 15 girafas mantidas no resort até então, seis foram infectadas pelo parasita e uma delas morreu no último sábado. Em nota divulgada, o BioParque afirma que “a causa da morte será confirmada após a necropsia do corpo”. Luciano Antunes Barros afirma que não há como confirmar que a infecção pelo parasita tenha sido a causa da morte da girafa sem que sejam feitos exames mais detalhados.
“Ter o parasita não quer dizer que o animal vá ficar doente. Pode ter uma carga baixa, o que não é um risco. Fica com a suspeita, mas não pode culpar, a principo, se foi só o parasitismo”, salienta o médico veterinário.
Após identificar o parasita através da cultura, o medicamento é administrado, sendo o principal deles a ivermectina, No entanto, é preciso continuar acompanhando para se certificar que a linhagem não apresenta resistência ao tratamento. Em 15 dias, deve ser observada a redução da quantidade de ovos nas fezes do animal. Sem um hospedeiro, o parasita morre, mas pode resistir por meses em ambientes com umidade, um tempo maior do que em comparação a regiões mais secas.
Fonte: Extra