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EQUILÍBRIO DA VIDA MARINHA

Gigantes dos mares e aliadas do clima: baleias enfrentam série de ameaças que precisam de atenção

Além de importantes para o equilíbrio da vida marinha, baleias contribuem para a absorção do carbono. Especialistas discutem como preservá-las de ameaças como o aquecimento dos mares, poluição sonora e colisões com navios

30 de outubro de 2023
Redação Um só planeta
6 min. de leitura
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Foto: Vadim Manuylov | Wikimedia Commons

Baleias não são apenas lindos animais que encantam quem tem a sorte de vê-las de perto. Esses gigantes dos mares, cujo peso pode chegar a 150 toneladas, são também aliados da estabilidade do clima. Por exemplo, ao atuar como sumidouros de carbono nos oceanos, contribuindo para a redução da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e para o combate às mudanças climáticas.

Sua contribuição continua até depois da sua morte, e ainda vale para seus excrementos. Os mamíferos, após morrerem, levam consigo o carbono capturado para o fundo do oceano, que é incorporado nos sedimentos marinhos e ajuda a sustentar ecossistemas profundos. Já o esterco contém elementos como fósforo e nitrogênio, que ajudam a promover o crescimento de fitoplâncton, algas que também absorvem carbono por meio da fotossíntese, convertendo-o em oxigênio, mostrando uma conexão surpreendente entre alguns dos maiores e menores organismos do nosso planeta. Ou seja, sem as baleias, estaríamos sujeitos a um aquecimento global ainda mais exacerbado – para não falar de um óbvio desequilíbrio da biodiversidade marinha.

A má notícia é que as baleias estão constantemente sob ameaça. Algumas delas, como a cachalote, estão na lista de espécies vulneráveis da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Segundo essa mesma organização, a proporção de cetáceos ameaçados de extinção aumentou de 15% em 1991 para 26% em 2021.

As ameaças mais presentes às baleias são:

  • Plástico nos oceanos: Segundo a WWF Austrália, a poluição plástica mata 100 mil mamíferos marinhos todos os anos, incluindo muitas baleias. Elas acabam engolindo lixo plástico dos oceanos diretamente ou por meio da presa que já o engoliu em primeiro lugar. Um caso de cachalote que morreu encalhado na Indonésia se tornou conhecido após sua necropsia revelar que tinha ingerido mais de 6 quilos de plástico. Mesmo o microplástico também é nocivo, engolido em grandes quantidades junto com a água.
  • Mudanças climáticas: De acordo com a WDC (Whales and Dolphins Conservation, ou Conservação de Baleias e Golfinhos), as baleias estão sujeitas a pesados impactos decorrentes das mudanças no clima causadas pelo homem. O rápido aquecimento do planeta está levando à perda de habitats e a uma maior competição por uma quantidade cada vez menor de espécies de presas. Muda também seus padrões de migração e até sua habilidade de reprodução.
  • Caça e pesca: No passado, a caça quase dizimou completamente as baleias. Embora diversas leis tenham sido estabelecidas para impedir a prática, há um retrocesso em andamento, com países como a Islândia voltando a autorizar a caça. Além disso, a pesca de outras espécies, quando exagerada, pode prejudicar o estoque daquelas que são alimentos de baleias. Já foi registrado a diminuição de um número de orcas no Mar Salish, na costa ocidental canadense, devido à crescente pesca do salmão.
  • Poluição sonora: tráfego de navios, sonar e exploração de gás e petróleo geram ruídos que podem atrapalhar a migração, reprodução, comunicação e navegação das baleias. Eles também podem ser muito prejudiciais fisicamente a elas, afetando sua audição, causando hemorragia cerebral e o abafamento da comunicação de sons importantes para a sobrevivência. Por exemplo: testes sísmicos para identificar fontes de petróleo em alto mar são feitos gerando fortes e repetidas pancadas no solo do oceano, e medindo os padrões de expansão dos ecos. Esses sons viajam por milhares de quilômetros, desorientando e potencialmente matando animais pelo caminho. Há ainda casos mais pontuais, mas também muito perigosos, como os barcos em alta velocidade que se chocam com baleias. No Atlântico Norte, em regiões onde há avisos claros para desaceleração, se tem notado uma intensa diminuição da população de baleias francas, com menos de 400 restando.

Caminhos para preservar as baleias

 

Como, então, cuidar para que esses impressionantes animais marinhos continuem exercendo suas vidas e seu papel importante para a manutenção do equilíbrio climático?

A organização Ocean Conservancy sugere caminhos importantes para tal. O mais abrangente seria intensificar a transição energética, substituindo o quanto antes o uso de petróleo e gás. Isso teria vários impactos positivos: diminuir a sobrecarga sobre elas na absorção de carbono, evitar derramamentos de petróleo no mar, diminuir a poluição sonora e o tráfego de embarcações para as plataformas.

Além disso, a organização sugere que sejam adotadas políticas mais rígidas de redução da velocidade de barcos e navios, o que poderia diminuir as fatalidades devido às colisões em até 78%. Outras soluções para evitar colisões vêm sendo testadas, como “boias inteligentes” que sinalizam rotas migratórias e informam as embarcações do risco de baleias passando por ali.

Além, é claro, de garantir a proteção delas contra a caça. O histórico acordo firmado neste ano para proteção e o uso sustentável do mar aberto e sua biodiversidade, por meio das Nações Unidas, foi um passo importante no pacto mundial de preservação a toda vida marinha. Mas, além do acordo ainda precisar ser ratificado por pelo menos 60 países, outras iniciativas descentralizadas precisam acompanhar esta.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) sugere também adotar nos oceanos proteção semelhante ao que existe em relação à proteção florestal no modelo +REDD, em que países e comunidades que as protegem são recompensados pelo serviço prestado. Em 2019, o FMI estimou que o serviço de captura de toneladas de carbono da atmosfera fornecido pelas baleias tem valor econômico de US$ 1 trilhão. Instituições financeiras estão considerando “biocréditos” para financiar sua preservação, discussão bastante presente na COP15, convenção da ONU para a biodiversidade ocorrida no Canadá em dezembro de 2022. Para muitos cientistas, contudo, ainda há muito trabalho a ser feito para chegar ao nível de verificabilidade necessário para se falar em créditos de carbono para baleias atrelados a iniciativas de conservação e restauração ambientais e da biodiversidade.

Há mais. “Incentivos como subsídios ou outras formas de compensações podem ajudar aqueles que incorrem em custos significativos por proteger as baleias. Por exemplo, as empresas de transporte poderiam ser compensadas pelos custos da alteração de rotas de transporte que reduziriam o risco de colisões”, sugeriu a instituição financeira.

Fonte: Um Só Planeta

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