Os gatos domésticos (Felis silvestris catus) são vistos, muitas vezes, como “incontroláveis”, conseguindo adaptar-se e sobreviver em qualquer meio, sendo mesmo potenciais destruidores de ecossistemas. Um estudo da Universidade de Aveiro, publicado na «PLoS ONE» vem contrariar essas ideias tidas como certas.
Em conversa com o «Ciência Hoje», o autor da investigação Joaquim Ferreira, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, explicou que em situações específicas como “ambientes insulares onde foram introduzidos e onde não existiu co-evolução entre predador e presa isso pode acontecer (como já aconteceu em ilhas do Pacífico e na Austrália)”. Noutros ambientes, não.
O estudo insere-se no trabalho de doutorado sobre gatos-bravos (Felis silvestris) e quis perceber qual o impacto da ação humana na conservação deste animal. Estando o gato doméstico próximo do homem era também importante perceber qual o seu impacto.
“O gato doméstico tem uma grande capacidade de adaptação. O que queríamos saber era se consegue ter ou não sucesso no meio natural, se consegue sobreviver de forma independente do ser humano e qual o seu impacto no meio”, explica.
Foram escolhidas 130 herdades em Barrancos, pois esta, diz o investigador, “é uma das zonas mais bem conservadas do país e tem uma baixa presença humana”.
Depois do acompanhamento destes animais a equipe de investigadores chegou a várias conclusões. “Os gatos domésticos não existem se não houver pessoas. Não vivem independentemente dos humanos, nem longe das casas”, explica.
Apenas os machos, e só quando sentem uma fiemea no cio, se deslocam a maior distância. “Para procurarem fêmeas podem fazer grandes deslocamentos, mas são sempre limitados. Só se dirigem a outro lugar se este ficar a três quilômetros ou menos de distância”.
E mesmo nessa dispersão, param nas casas que encontram ao longo do caminho. “Os deslocamentos são também limitados pela presença de raposas que, apesar de não os comerem, podem matá-los, pois estas os vêem como predadores que podem competir por alimento”. Assim, não se aventuram em áreas mais densas de mato.
O investigador conclui que “em áreas de ecossistemas bem conservados, com a presença de populações de animais saudáveis, os gatos domésticos não são um problema para a preservação do habitat”.
Este estudo ganha importância a nível internacional pois pela “primeira vez foram avaliados todos os mecanismos pelos quais as populações de gatos domésticos podem ou não ter sucesso”.
Fonte: Ciência Hoje