A linguagem corporal dos gatos é rica em sinais que revelam suas emoções e intenções. Quando arqueiam as costas, eriçam o pelo ou achatam as orelhas, expressam medo ou estresse. Já gestos como apertar os olhos, amassar as patas e esfregar a cabeça indicam afeto e confiança. Uma cauda ereta, com a ponta ligeiramente curvada, é um símbolo claro de contentamento e saudação amistosa.
Mas o que acontece quando essa cauda é diferente? Como a comunicação é afetada? Foi o que uma equipe de pesquisadores estudou a partir de registros de dois gatinhos com uma mutação que os impede de manter a cauda reta. Quando eles a levantam, ela logo se curva para as costas.
Essa característica tem se tornado mais comum em locais onde se criam de gatos de raça, coisa que não costuma acontecer no Brasil. Esse traço pode ocorrer em muitas raças diferentes, e muitas vezes os animais são selecionados artificialmente em torno dessa cauda torta, chamada american ringtail. Entretanto, essa não é uma raça oficialmente reconhecida.
Os pesquisadores observaram dois espécimes desse tipo que vivem em casas e famílias diferentes, e constataram que eles ainda eram capazes de estabelecer comunicações amigáveis com gatos da cauda normal. Foi a primeira vez que esse tipo de traço foi avaliado com essa intenção.
Em entrevista à Scientific American, a principal autora do estudo, Morgane Van Belle, disse que a cauda enrolada dá ao gato “algo como um sotaque”, e que pode levar algum tempo e esforço para que os outros entendam. “Talvez eles estejam usando outros sinais, como a posição da orelha ou odores”, acrescenta ela. “Provavelmente, o fato de se conhecerem muito bem também ajuda na comunicação. Isso realmente mostra como os gatos são flexíveis ao se comunicarem uns com os outros.”
O resultado é relevante porque existem casos em que esse tipo de deformação impacta negativamente a interação entre os animais. É o caso dos gatos da raça Scottish Fold, cujas orelhas são dobradas e impedem a mobilidade natural, necessária para a adaptação dos animais aos ambientes.
Embora não tenhamos familiaridade com gatos de raça no Brasil, os impactos são semelhantes aos de raças de cachorros. No caso dos pugs e outros cachorros de focinho achatado, por exemplo, a seleção artificial atrapalha a qualidade de vida e a saúde dos cães, que ficam com dificuldades respiratórias.
Os autores ressaltam, entretanto, que a flexibilidade da comunicação dos gatos com caudas tortas não deve ser dada como um atestado de saúde da mutação. “Uma nota de advertência sobre a ética da reprodução seletiva em relação a anomalias como a cauda do tipo Spitz é relevante, até que mais dados científicos sobre implicações mais amplas para a saúde e o bem-estar estejam disponíveis”, escreveram os autores no estudo que foi publicado na revista The Veterinary Journal.