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Gatos e outros animais nas Olimpíadas do Rio de Janeiro

20 de outubro de 2015
4 min. de leitura
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Por Aparecida Negreiros (da Redação)

Em poucos meses o Rio de Janeiro viverá o evento das Olimpíadas. O governo e diversos setores se preparam para receber visitantes e observadores do mundo inteiro. Mas, entre os desafios de mostrar a beleza física e espiritual do nosso povo e da nossa natureza existe também a necessidade de mostrar que sabemos controlar a violência e proteger a vida. Estamos preparados para isso? No que se refere ao cuidado humano, milhares de militares e policiais estarão atentos dia e noite, mas o que está sendo feito quanto aos animais, cuja mente cognitiva, social e emocional tanto os aproxima de nós, mas que não possuem voz para defender os seus direitos?

A prefeitura do Rio parece ainda não ter enxergado a sua responsabilidade socioambiental. Por exemplo, enquanto o zoológico da cidade agoniza pela falta de atenção, gatos vêm sendo alvo de ações repressivas. Os felinos, assim como os cães, são muito populares, porém a capacidade de reprodução desses animais e suas perambulações por comida e acasalamento criam circunstâncias que precisam ser cuidadas. Encarando mais profundamente o tema, milhares deles acabam se acomodando em áreas privadas ou públicas, residenciais ou comerciais, onde muitas vezes morrem por fome, sede, doenças, maus tratos e acidentes. Várias cidades no mundo, assim como o Rio de Janeiro, vivem o desafio de lidar com comunidades de animais sem tutor.

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Em épocas de Olimpíadas governos como o da Rússia tomaram atitudes truculentas, eliminando ou confinando os animais das ruas para que os visitantes imaginassem que não existiam. Uma decisão que repercutiu negativamente tanto do ponto de vista humanístico quanto de imagem perante o mundo. Capturar e retirar os animais de um local parece, à primeira vista, uma solução lógica. No entanto, não existe um “outro lugar” para abrigar todos os animais abandonados. Além de um processo caro ao contribuinte, transferência e confinamento em centros de controle e abrigos transformam a vida dos animais em um verdadeiro inferno e não contribuem para solucionar o problema ou melhora a saúde e a segurança pública.

No Brasil, há diversas leis de proteção animal, mas é preciso uma nova mentalidade das autoridades quanto aos animais nas ruas. Pesquisas em diferentes países demonstram que ações de captura, retirada e mesmo morte dos animais, além de contarem com reprovação social mostraram-se ineficazes, pois não atuam nas principais causas do problema: a procriação descontrolada, o abandono contínuo e a falta de informação das pessoas. Sabe-se hoje, por exemplo, que a simples retirada de colônias de felinos não elimina a sua presença em uma localidade. Outros rapidamente ocupam aquele espaço pelo chamado “efeito vácuo”. Por serem territoriais, gatos geralmente constrangem a chegada de outros felinos. Logo, castrar a colônia e os novos animais que conseguem se aproximar, e deixá-los em seu território, quebra os ciclos de repovoamento. O método CCD – captura, castração e devolução -, incluindo-se chipagem e vacinação, é definitivo, eficaz e mais barato que as repetitivas e infrutíferas tentativas de expulsão dos animais.

cat 2A prefeitura do Rio de Janeiro tem dado sinais contraditórios do que pretende fazer via diferentes órgãos e é preciso que seja alertada para não desinformar a população e cometer erros em sua estratégia. Por um lado, conforme reportagem veiculada na TV, estão adotando o método CCD nos felinos do Campo de Santana. Em outro caso, no Centro Administrativo São Sebastião (CASS), no ano passado, em uma campanha mal planejada do município os gatos foram retirados e levados para um abrigo municipal. Como previsto, animais saudáveis morreram durante o processo de confinamento enquanto novos gatos se apoderaram do CASS, em um ciclo que pode ser interminável por falta apropriada de planejamento. Há também ações desconexas da vigilância sanitária na CADEG e em outros lugares pela cidade, que não levam em conta vários fatores, como o efeito vácuo dos animais do entorno, por exemplo.

Queremos acreditar que o Rio de Janeiro é competente para desenvolver um plano verdadeiramente efetivo, que congregue a totalidade das ferramentas técnicas e socioeconômicas aplicáveis. Urge o desenvolvimento de ações éticas e a união de esforços devidamente estruturados envolvendo governo, ONGs e a sociedade civil. Há grandes exemplos de sucesso do método CCD em empreendimentos importantes na cidade do Rio de Janeiro e em outros estados.

O carioca merece ter uma cidade que mostre ao mundo todo que sabe cuidar do bem estar de todos os seus habitantes, de forma digna e inteligente. Que verdadeiramente respeita a vida. E não apenas durante as Olimpíadas.

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