Mais de 3,5 milhões de civis deixaram a Ucrânia desde o início da invasão russa. Muitas pessoas levaram seus animais domésticos e encontraram abrigo em países vizinhos. No entanto, muitos ucranianos, voluntários, protetores e ativistas optaram por arriscar as próprias vidas e ficaram no país para cuidar de animais em situação de rua ou abandono. Um bunker se tornou o lar de dezenas de gatinhos que não tem para onde ir. Lá, eles recebem alimento, carinho e, principalmente, são protegidos de mísseis e bombas.
Um vídeo compartilhado pela jornalista Anna Yaremenko, na rede social Reddit, mostra uma colônia de gatinhos que sobreviveu a bombardeios e agora vive em um abrigo antibomba em Shostka, uma cidade no nordeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia. “Muitos animais foram deixados para trás em todo o país. É guerra, você não pode culpar as pessoas , mas você faz o que pode para salvar os animais. Não são apenas as pessoas que sofrem por causa da guerra, mas muitos animais também”, disse a jornalista em entrevista à NewsWeek.
Os gatinhos que vivem no abrigo antibombas receberam nomes como Milady, Toffee e Stepashka. Apesar dos traumas e da incerteza quanto ao futuro, eles adoram brincar e receber carinhos na barriga e na cabeça. “Parte meu coração saber que alguns desses são animais domésticos que não podem ser levados com suas famílias. Estou feliz por existir boas pessoas de olho nesses amiguinhos. Isso é absolutamente incrível e comovente ao mesmo tempo. As pessoas que estão cuidando deles em meio a tudo são maravilhosas”, afirmou um internauta.
Confira o vídeo abaixo:
Situação crítica
Bombas russas atingiram dois abrigos, um em Gorlovka e outro em Donetsk, ambos no leste da Ucrânia. Não há estatísticas oficiais, mas segundo informações do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW), muitos cães e gatos morreram, as estruturas dos locais sofreram sérios danos e muitos animais, apavorados, fugiram. Voluntários estão se dividindo entre resgatar os animais que correram em direção a zonas de confronto e cuidar dos animais que ficaram feridos com estilhaços.
A IFAW afirma que destinou cerca de £ 114.000 em ajuda de emergência e pede que outras organizações internacionais enviem suprimentos e auxílio. James Sawyer, diretor da entidade, afirma que, infelizmente, não é possível enviar voluntários para ajudar presencialmente, o que, sem dúvidas, seria de grande valia nesse momento. “A coisa mais útil agora é fornecer recursos aos grupos locais. Não podemos colocar botas no chão, é muito perigoso”, disse ao The Mirror.
O abrigo Holivka, localizado em Gorlovka, acolhe aproximadamente 300 animais e foi gravemente afetado. “Os funcionários dos abrigos ainda estão no local e forneceremos recursos para que eles possam continuar cuidando dos cães. As condições são muito difíceis”, disse James, que está em contato direto com a equipe do local. Os voluntários que aceitaram arriscar suas vidas para proteger os animais contam que não há energia elétrica e não podem fazer fogueiras.
O abrigo Pif, em Donetsk, foi o que sofreu mais danos, com dezenas de cães e gatos mortos e muitos animais feridos. O local acolhe 800 animais e está lutado para se manter de pé. A maior preocupação dos voluntários é a falta de suprimentos. Com o dinheiro que receberam, eles conseguiram comprar poucos estoques de fornecedores locais, mas se a guerra se prolongar por muito mais tempo, os animais ficarão sem comida e medicamentos.
James afirma estar surpreso com os ataques russos, que não estão poupando hospitais e abrigos, zonas consideradas neutras. “É bastante incomum vermos abrigos de animais sendo atacados de forma gratuita e covarde. Eles não são particularmente um alvo de guerra”. Apesar das dificuldades, ele esclarece que não deixará de ajudar. “Estamos trabalhando duro globalmente nessa questão. Continuaremos muito comprometidos com os animais”, pontuou.
O clima nos abrigos é de tensão. Voluntários explicam que os cães e gatos mantidos nos locais estão desenvolvendo sinais de intenso sofrimento emocional e muitos estão buscando lugares para se esconder. Eles também sentem a tensão que envolve toda a equipe e estão extremamente introspectivos. “Queremos muito paz. Estamos extremamente cansados mental e fisicamente”, finalizou uma voluntária.