Por Fátima Chuecco (da Redação)
Atenção: matador de animais à solta em Salvador, na Bahia. Detalhes sobre gatinha encontrada recentemente com três patas arrancadas, no bairro de Brotas, deixam claro que o assassino é um psicopata e, como tal, tornará a matar animais e talvez pessoas. A gatinha, que tinha por volta de três meses, foi encontrada na Rua Emílio Couto agonizando sobre uma placa branca. Ela mordia um caroço de manga. Teria o criminoso enfiado o caroço na boca dela? E pasmem: suas três patinhas foram jogadas num canto da mesma rua, cuidadosamente posicionadas umas sobre as outras.
Uma coisa é certa: trata-se de um criminoso de sangue frio, capaz de cortar uma pata seguida da outra assistindo o sofrimento intenso do animal. Além disso, ele queria que seu crime fosse “visto”, caso contrário, teria enrolado a gata num saco e jogado em lugar pouco visível. Já não havia sangue no local, portanto, a gatinha foi capturada, mutilada e levada para a rua horas depois. Já podia estar sofrendo há muito tempo quando encontrada. Foi socorrida por moradores da região e levada a uma clínica, mas não resistiu.
Embora a maior parte das pessoas e até autoridades, à primeira vista, não considerem esse caso um “alerta” sobre a segurança dos animais e população humana de Salvador, em pesquisas sérias feitas pelo FBI e também pela Polícia Ambiental de SP, um crime dessa natureza é um nítido “aviso” de que há um sujeito de alta periculosidade à solta, capaz de cometer crimes do mesmo tipo, inclusive, com crianças.
E, embora possa não ter qualquer relação (não sendo, contudo, impossível), um caso ocorrido em 2014 no bairro de Pernambués, que faz fronteira com Brotas, chama a atenção. Um menino de seis anos foi encontrado já em estado de decomposição e com o órgão genital arrancado numa casa alugada por um homem que, inclusive, teria dito que o garoto era seu filho. Testemunhas afirmaram que o assassino chegou primeiro em Brotas e teria oferecido a quatro crianças roupas e brinquedos a serem comprados em um shopping mas, no final, teria levado apenas um dos meninos. Mais tarde soube-se que a criança vivia com a mãe e vendia doces na rua. Veja a matéria aqui.
Providências
A vereadora Ana Rita Tavares, que é conhecida em Salvador por suas ações de proteção animal, disse ontem em entrevista à Anda, que levará o caso para o Ministério Público: “Vou requisitar que o MP peça investigação por meio da Polícia Civil, afinal, houve um crime ambiental, de maus-tratos e morte. A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente tem o dever de apurar. Em meu gabinete recebemos, em média, 20 denúncias diárias de morte de animais por violência ou envenenamento. Sem dúvida alguma, esses criminosos são um perigo para toda a sociedade”. Ana Rita disse que também vai pedir para a Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos Animais do Congresso Nacional se manifestar sobre o caso. A vereadora pode ser contatada pelos emails [email protected] e [email protected]
Teoria do Link entre maus-tratos a animais e violência contra pessoas
O FBI estuda a conexão entre maus-tratos aos animais e a violência contra pessoas desde a década de 70 por meio de um departamento de ciência comportamental. O Orgão estuda todas as informações das pessoas antes de traçar seus perfis levando em consideração, inclusive, histórico de crueldade animal. Uma entrevista com 36 assassinos seriais mostrou ao FBI que 36% deles mataram ou torturaram animais e 46% foram cruéis com os animais durante a adolescência. Entre os indivíduos estudados havia um criminoso que matou vários filhotes de gato para reviver a experiência de ter matado o próprio filho (sua primeira vítima). Ou seja, um serial killer pode intercalar assassinatos de pessoas com matança de animais como uma forma de aliviar sua sede de matar na dificuldade de encontrar vítimas humanas.
Esses dados estão no livro “Maus tratos aos animais e violência contra as pessoas”, do Capitão da PM do Estado de SP Marcelo Robis Francisco Nassaro que atuou 20 anos na Polícia Ambiental, onde ocupa cargo de chefe de operações. A obra é baseada em uma dissertação de Robis feita em 2013 e comprova o “link” ou a ligação entre maus-tratos a animais e a violência contra humanos por meio de análise das fichas criminais de todas as pessoas autuadas por maus-tratos a animais pela PM de SP entre 2010 e 2012.
A pesquisa em SP reforçou a veracidade da Teoria do Link já aplicada pelo FBI e outras instituições estrangeiras de investigação criminal. “Em pesquisa específica sobre mulheres, vítimas mais comuns da violência doméstica, foi verificado que 71% delas presenciaram seu companheiro tentando ferir ou matar seus animais de estimação e 32% relataram que seus filhos também já haviam matado ou ferido animais”, comenta o capitão no livro.
A pesquisa feita com 643 pessoas autuadas demonstrou que 1/3 das pessoas tinham também outros registros criminais sendo 50% deles de violência contra pessoas. Um dos autuados por crime contra animais já tinha outras 24 passagens criminais incluindo um estupro. O gráfico abaixo mostra o tipo e quantidade de outros crimes cometidos por pessoas autuadas por maus-tratos a animais.
Quanto ao perfil das pessoas que maltratam animais, a pesquisa demonstrou que são na maioria homens, 90%, e de meia idade, por volta dos 43 anos. Há também mais ocorrências em ambiente urbano que rural. De 2010 a 2012 as denúncias foram aumentando: em 2010 foram 124 registros, em 2011 um total de 185 e 245 em 2012. O fato não reflete necessariamente que aumentaram os casos, mas que tem aumentando o interesse da população em denunciar. No gráfico abaixo os dados de perfil.
A expectativa do autor é que o trabalho registrado no livro possa servir para a implantação de políticas públicas, especialmente de segurança pública, para combater os maus-tratos aos animais e agir preventivamente em relação aos futuros crimes violentos contra as pessoas e animais.
Análise de caso
Existem muitos casos de matadores em série que torturaram e mataram animais, mas vamos recorrer a um caso mais recente, do século 21. Sete anos atrás dois serial killers foram presos depois de dezenas de bárbaros assassinatos que incluíam mutilação das vítimas. Igor Suprunyuck e Viktor Sayenko se tornaram amigos na adolescência, em uma escola da cidade de Dnepropetrovsk, na Ucrânia, junto com um terceiro rapaz, Alexander Hanzha.
O trio tinha um desejo em comum: superar seus medos de altura, sangue e de serem espancados por valentões. Começaram então a torturar e mutilar os cães, gatos e outros animais. Gravaram e fotografaram a maioria de suas crueldades com bichos sendo várias delas expostas na internet. Alexander foi preso por roubo antes de começar a matança de pessoas. Igor e Viktor foram presos em 2007, após uma série de 21 assassinatos. A maioria das vítimas eram, de alguma forma, vulneráveis como mendigos, idosos, jovens e mulheres. Um vídeo de assassinato brutal, gravado pelo celular de um dos criminosos, chegou a vazar na internet e nele os dois serial killers podiam ser vistos.
Todas as vítimas foram espancadas com martelos e barras de metal. Várias foram torturadas, mutiladas e tiveram olhos e orelhas arrancados. Suprunyuck foi acusado de 21 assassinatos, oito assaltos à mão armada e crueldade animal. Sayenko foi acusado de 18 homicídios, cinco roubos e crueldade contra os animais. Em 2009 cada um deles recebeu sentença de prisão perpétua. Não houve provas de que Hanzha participou dos assassinatos de pessoas e sua pena foi de nove anos. Detalhes do caso neste link.
Leia também a primeira matéria sobre a gatinha cruelmente morta e que já foi acessada por mais de 13 mil pessoas.