Gracie não gosta de comer ao lado dos outros gatos e os carinhos que recebe dos humanos também têm de ser só para ela. “Ela é mais ou menos uma princesa”, brinca a cuidadora, Aylin Myumyunova. A gata preta com os olhos estrábicos tornou-se uma estrela do dia para noite e acabou por ser tornar na mascote do grupo de resgate da sua salvadora.
A gata foi encontrada no Chipre, como parte de uma colônia com vários gatos que vivia à beira-mar. Aylin, que é artista mas tem como paixão o voluntariado animal, foi alimentá-los certo dia e Gracie foi a que chegou mais perto, permitindo que a salvadora a apanhasse. “Infelizmente, o Chipre não tem boas leis em relação ao bem-estar animal, pelo que os voluntários e os amantes dos animais estão sobrecarregados”, começa por contar à PiT. “A Gracie foi um dos resgates que ajudei.”
Aylin é a fundadora da Lin’s Hearts for Paws, uma associação que acolhe, esteriliza e reabilita gatos em situação de rua. Quando apanhou Gracie, recorda-se de perceber de imediato que a pequena, na altura com quase dois meses, tinha um “olhar muito invulgar”. Naquele dia, pensou que seria fácil encontrar-lhe um lar, precisamente por ser muito diferente do restante. E não estava errada.
“Infelizmente, conheço gatos com uma aparência muito comum que não conseguem encontrar uma família”, lamenta. “No Chipre as adoções são quase impossíveis devido à enorme quantidade de animais em situação de rua e por isso promovo estes resgates no Reino Unido ou noutros países da Europa como Alemanha, Holanda, Bélgica, Suíça, Áustria, entre outros”.
A ideia era que Gracie ficasse apenas um mês e meio com a cuidadora até ter idade suficiente para viajar (aos quatro meses). Um dos vídeos que partilhou da cria rodou o mundo e tornou-se um meme. “Fiz uma publicação no TikTok sobre ela que explodiu do dia para a noite”, recorda. “Recebi imensas candidaturas de adoções e não consegui analisar todas”.
Mais tarde, Aylin decidiu que o melhor seria mantê-la como mascote da associação. “Simplesmente não me conseguia separar dela”, confessa. “Pensei que esta bebé estava destinada a ficar comigo. Ela tem milhões de visualizações e ganha seguidores diariamente.”
@huh.cat.gracie.officialGracy will.be adopted via Hearts for Paws Cyprus
O estrabismo não afeta a sua visão
Hoje, Gracie tem pouco mais de um ano, mas continua a fazer sucesso nas redes sociais e a ajudar outros animais a encontrar famílias definitivas. “Existem muitas contas falsas que publicam os vídeos da Gracie, portanto as pessoas demoram para encontrar o original”, explica à PiT Aylin. “Também não temos lucro com o TikTok e com o Instagram porque o Chipre não está no programa de recompensa para criadores, então a Gracie só consegue ganhar com a publicidade de produtos”.
O programa de recompensa para criadores é uma ferramenta usada por várias redes sociais e tem como principal objetivo pagar os seus criadores (normalmente aqueles com pelo menos 10 mil seguidores), tendo em conta o número de visualizações que atingem em cada vídeo. No entanto, está disponível apenas em alguns países.
“A Gracie tem uma personalidade muito única, como todos os outros gatos. É muito amorosa, mas gosta de mostrar isso só quando quer”, diz. “Não gosta de ser carregada, não gosta de ser fotografada, nem de aparecer nos vídeos a maior parte do tempo. Ela gosta de comer separada dos outros gatos e de receber carinhos separadamente. Também adora brincar com os gatinhos filhotes e ajudar a criá-los.”
A cuidadora sempre achou a companheira adorável — bem como todos os outros que resgata —, mas nunca imaginou que a gata se tornaria uma celebridade. E embora tenha os olhos estrábicos, não sofre de qualquer problema de visão.
“A visão dela foi examinada por especialistas que não recomendam uma cirurgia porque pode gerar complicações”, aponta. “Ela vê bem, só não está 100 por cento focada. Consegue andar e correr em linha reta, subir e descer escadas, e salta bem. Muito raramente pode não conseguir calcular a distância ao saltar, mas é mesmo muito raro.”
O seu melhor amigo é Nelson, um gato sem um olho
A condição não afeta a parte nervosa da gata. Ainda assim, Aylin partilha à PiT que tende a fazer exames frequentes para ter a certeza de que tudo está bem com os olhos da companheira. “Com os outros animais, ela apenas mantém a distância. Não gosta de estar muito próxima dos outros resgates que tenho para acolhimento. A única proximidade que ela conseguia ter é com os gatinhos”, aponta.
Um dos seus favoritos é Nelson, um gato que perdeu um olho após contrair gripe felina na rua e que vive no estúdio de artes onde a tutora de Gracie trabalha. “No Chipre é uma condição muito comum em que os gatinhos têm problemas nos olhos, ou nascem cegos ou ficam cegos após contrair o vírus”, afirma. “É muito doloroso e desagradável. Os olhos até sangram.”
A voluntária partilha que muitos felinos sofrem com a condição nas ruas de Chipre. A maioria não se deixa ser apanhada e, consequentemente, não recebe a medicação e os nutrientes de que precisa. Aqueles que têm a sorte de serem resgatados, são acolhidos, reabilitados e colocados para adoção.
Fonte: Pets In Town