Minha mãe acabou de me trazer na psicóloga. Acha que porque eu não gosto de animais, devo ter algum problema. O problema é que eu gosto de animais, só que não do jeito que ela acha que eu deveria gostar. Outro dia perguntou se eu não queria um cachorrinho. Que a amiga dela vende uns lindinhos, de raça. Eu não quis. Falei que adotado é muito melhor. Ela torceu o nariz e voltou pra cozinha. Quis me levar ao zoológico com meus primos no fim de semana. Eu não fui. Fiquei com meu avô, que já está velhinho e quase não sai de casa. Não sei como os animais vão parar lá. Alguns podem até ter sido resgatados de alguma situação de risco, mas não acho justo nem bonito prender tantos animais maravilhosos só para que as pessoas possam ir vê-los enquanto comem pipocas e refrigerante. Meu vizinho ia se mudar e tem um aquário daqueles grandes, de água salgada. Adivinha o que eu falei pra minha mãe quando ela comentou que ele iria doar? O mesmo que disse quando ela me viu triste por causa do canário belga que vive preso desde que nasceu, na gaiola do seu José, o dono da mercearia: que peixes, aves e todos os outros animais nasceram longe dos humanos porque é lá o lugar deles. É nos rios, no mar, nas árvores, nas florestas… Que eles não existem para irem parar no nosso prato, em gaiolas, aquários ou em qualquer outro lugar que não a casa deles. Minha mãe acha que tenho algum problema… Pior é que com esse tapete de pele de vaca aqui no consultório, já vi que vai ser difícil convencer a psicóloga também.