Quatro profissionais da saúde de Campos Novos, no Meio-Oeste de Santa Catarina, estão afastados de suas funções por, no mínimo, 30 dias. A medida foi tomada depois que uma servidora pública municipal levou o gato de estimação para ser atendido no pronto-socorro de um hospital da cidade. Três sindicâncias foram abertas para investigar o fato.
A veterinária Maria Angélica Soares, que havia um mês atuava na Vigilância Sanitária do município, percebeu que o seu gato persa, chamado Guilherme, estava passando mal por volta das 18h30 de quarta-feira. O animal enfrentava problemas respiratórios e estava tendo uma crise de falta de ar. Em casa, antes de levá-lo ao pronto-socorro do Hospital Dr. José Athanásio, ela disse ter ligado para clínicas específicas, mas não encontrou nenhum local aberto, já que era feriado no município.
Em desespero, ela contou ter levado o gato a uma farmácia para que o animal fosse posto no oxigênio. Como não encontrou tubo disponível, levou Guilherme ao pronto-socorro da unidade hospitalar. Na sala de emergência, um médico e três auxiliares de enfermagem atenderam o animal e o colocaram no oxigênio durante 10 minutos. O gato morreu ao deixar o hospital.
“Eu vi meu animal de estimação agonizar nas minhas mãos em função da asfixia. Não medi esforços para salvar a vida dele, estava desesperada e não consegui pensar em nada senão em lhe tirar daquela situação. Não raciocinei e tampouco agi de má-fé, queria apenas que meu gato voltasse a respirar. Quem ama os animais, entende minha posição”, disse Maria Angélica.
A médica-veterinária reconhece que a atitude de procurar socorro em um local específico para atendimento humano foi impensada e acredita sofrer pressões de “inimigos”, por conta do seu trabalho de fiscalização na Vigilância.
A direção do hospital reprovou veementemente o fato. Para a administradora da instituição, Marliese da Cass Mecabô, o socorro médico ao gato em plena emergência hospitalar remete a uma série de erros cometidos pelos cinco envolvidos: médico plantonista e três auxiliares de enfermagem, que não tiveram os nomes divulgados, além de Maria Angélica.
“Ela (a dona do animal) não deveria ter procurado o hospital, e os nossos profissionais, em hipótese alguma, poderiam realizar o atendimento. Estamos muito decepcionados e lamentamos a falta de ética das pessoas que se envolveram na situação”, afirmou Marliese.
Segundo a administradora, os equipamentos utilizados no atendimento foram descartados; a sala passou por desinfecção, esterilização e bacterioscopias (exames que detectam se há algum resquício de contaminação) e está interditada. O hospital instaurou processo disciplinar administrativo para apurar as circunstâncias do fato e os profissionais estão afastados por até 30 dias. A prefeitura informou que a médica-veterinária é concursada, está em estágio probatório e ficará afastada da função por 60 dias.
O médico que atendeu o gato responderá uma sindicância no Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC), assegurou o oftalmologista e integrante do CRM, Elcio Luiz Bonamigo. O profissional poderá receber uma censura ou advertência.
“Este jovem médico, de 21 anos, é recém-formado, não tem experiência na área e trouxe sérios problemas da graduação. Feriu dois princípios que regem a Medicina, a ação em beneficio e zelo à saúde e busca constante pela melhoria dos padrões de serviços médicos. Vamos instaurar a sindicância na próxima semana e aplicar-lhe uma penalidade”, afirmou Bonamigo.
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Fonte: Diário Catarinense