Duas senhoras finas e educadas conversando no ônibus sobre carne orgânica e vaquinha feliz. “É um ótimo lugar para se passar um final de semana, os animais são muito bem tratados, tem até uma bióloga”. Elas vivem suas vidas tóxicas e nocivas ao meio ambiente. Mas no fim de semana vão lá no sítio da vovó. A cena, por si, já mostra o objetivo dessa indústria de animais felizes: conquistar o público ingênuo e com poder aquisitivo. E tirar toneladas de peso, se é que há algum, da consciência de quem por um momento se questionou o quanto é bizarro pagar para alguém matar.
Quando falo que não existe vaquinha feliz, ouço ‘ah, mas lá na minha tia…’ – preencha-se a lacuna com auto ilusões. Todo mundo conhece alguém. Todo mundo entende do que fala. Eu já visitei e fotografei esses lugares. Não há vaquinha feliz. Não há carne ecológica.
Para a exploração não há justificativas. Não há motivo ético para seguir explorando vacas, tirando seu leite e matando seus filhotes. O mesmo se aplica a qualquer tipo de animal e mesmo ao animal humano. Se as prostitutas de todos os sexos e idades se tornarem felizes, não há por que endossar a prática bárbara da prostituição. Se esta lógica fosse correta, bastariam anestesia, pacotes de doces, presentes e ilusões, e então a prática da exploração de um ser humano seria válida.
A questão ética do uso é que é importante aqui. Quase ninguém com um pingo de caráter acha correto, ainda bem, que se use pessoas como meios para seus propósitos. As pessoas devem ter sua dignidade preservada, não podem ser compradas ou vendidas como mercadoria. E eu luto para que isso jamais aconteça com crianças, idosos, presos, loucos, mendigos, mulheres, pobres e terceiro mundistas. Mas isso acontece com todos esses, com mais meio mundo, e com a massa expressiva de animais que morrem a cada minuto.
Se você ainda acha que há diferenças entre essas pessoas, entre os animais e entre você, classe média, ou alta, ainda falta muito para se dizer consciente, ou que sente alguma coisa, como compaixão, ou respeito, pelos animais.