Em tons apagados de marrom ou cinza, muitas vezes os peixes de rio passam desapercebidos quando se trata de conservação. A desatenção tem custo, com cerca de um terço das populações globais em risco de extinção e 80 espécies já extintas, de acordo com o relatório “Os Peixes Esquecidos do Mundo”, feito em 2021 pela WWF.
Isso está tendo impacto tanto na natureza, quanto em humanos. Peixes de água doce servem de alimento para cerca de 200 milhões de pessoas, e de sustento para 60 milhões, diz a pesquisa – e dependemos dos ecossistemas de rios para água, saneamento e energia.
“Os rios são as artérias do nosso planeta”, disse o biólogo especialista em conservação de águas doces e fotógrafo Jeremy Shelton. “Eles transportam água fresca e limpa das montanhas por entre as paisagens e nos dão esse recurso crítico do qual dependemos tanto para beber, cultivar e girar a indústria.”
Shelton, pesquisador no Centro de Pesquisa de Água Doce, na África do Sul, encantou-se pelos ecossistemas fluviais na infância, quando brincava em um pequeno córrego nos fundos da casa da sua família. Mas percebendo que as outras pessoas ficavam menos intrigadas pelas profundezas, ele mais tarde pegou sua câmera, buscando mostrar a rica diversidade da vida na água doce, e alertar sobre sua fragilidade.
“É tudo sobre inspirar as pessoas a tornarem-se mais conscientes sobre o mundo natural ao seu redor, e uma vez que essa conexão é forjada, a mudarem a forma como se comportam, como agem e se conectam à vida”, disse Shelton à CNN.
Suas fotografias foram inseridas no relatório da WWF sobre a água doce, e foram amplamente compartilhadas no Instagram, inclusive pelo ator e ativista Leonardo di Caprio.
Rios sul-africanos em perigo
No país natal de Shelton, os ecossistemas fluviais estão em necessidade urgente de proteção. Os peixes de água doce são o grupo de espécies mais ameaçado na África do Sul, e as áreas de pântanos e rios estão sob maior pressão do que qualquer outro ecossistema, de acordo com a análise nacional de biodiversidade de 2018.
O relatório também destaca que metade das espécies de peixes de água doce da África do Sul não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do mundo, portanto estratégias para prevenir o declínio das populações e minimizar ameaças como a degradação de habitats e espécies predatórias invasoras são muito necessárias.
“Eu sou testemunha da crescente deterioração dos ecossistemas fluviais ao meu redor, e eu sou movido pela oportunidade de poder trabalhar para conservar alguns desses sistemas”, disse Shelton.
Ele está envolvido em uma série de projetos de conservação da água doce, como o projeto Rios Críticos do Cabo, que é focado na preservação de espécies ameaçadas, como o Pseudobarbus burchelli e o Labeo seeberi, e projetos educacionais ao ar livre, que buscam conectar pessoas jovens com os ecossistemas fluviais.
Mas Shelton acredita que as imagens têm o poder de alcançar além das fronteiras, e comunicar em uma escala global a beleza da natureza e a crise na biodiversidade.
“Através dessas images e da ciência que vem com elas, [eu quero] abrir a mente das pessoas para a beleza e a fragilidade da vida abaixo da superfície dos nossos rios e pântanos”, ele disse.
“Espero que ao conectar-se com esses mundos nunca antes vistos, as pessoas os tratarão um pouco mais gentilmente, e serão um pouco mais considerativas sobre a maneira como vivemos nossas vidas e como interagimos com esses ecossistemas naturais”.
Fonte: CNN Brasil